sábado, 30 de abril de 2011

Álcman: "partênio do Louvre" (3 Calame 3; 1 PMGF)

Minha tradução segue de perto a interpretação de Claude Calame para o poema; após a tradução, os principais elementos de sua leitura ritual. Para outras traduções, cf. Ragusa 2010 (Lira, mito e erotismo; contém uma longa discussão do poema) e a de Frederico Lourenço (sem a parte inicial do fragmento, mais danificada).


] Polydeukes.
Eu não]conto, entre os mortos, Lykaiso,
Ena]sforo, Sebros de pés ligeiros,
]o vigoroso,
] o combatente,
Euteikes], o senhor Areio,
], distinto entre os semideuses;

]o caçador
] grande e Eurito
] tumulto
] os melhores
] deixaremos de lado
] de todos, Destino
e Percurso,] os mais velhos,
des]calça defesa
que nenhum dos h]omens voe ao céu,
que nenhum t]ente desposar Afrodite
] a senhora, ou alguma
] ou a filha de ...co
Gr]aças, a morada de Zeus
] as de desejo no olhar;

]ssimos
] uma divindade
] amigos
] presentes
]
] a juventude destruiu
t]rono
em v]ão
] foi. Um deles com uma flecha
] com rocha brilhante
] no Hades
]
] . Inesquecíveis
feitos sofreram, após armarem vilezas.

Há uma vingança dos deuses:
é venturoso quem, atilado,
tece por completo o dia
sem chorar. Quanto a mim, canto
a luz de Agido; estou vendo-a
como o sol, que para nós
Agido convoca para brilhar
como testemunha. A mim, nem a louvá-la
nem vituperar a gloriosa guia do coro
absolutamente permite: ela mesma parece
destacar-se como se alguém,
entre o rebanho, fosse postar um cavalo
vigoroso, vitorioso, trovejante,
um daqueles sonhos alados [ou: ‘sob as pedras’].

Não vês? O corcel
é enético; já a cabeleira
da minha prima
Hagesícora floresce
como ouro puro.
O semblante prateado –
por que te conto claramente?
Ei-la, Hagesícora.
A segunda em beleza, Agido, atrás
vai correr, cavalo colaxeno contra um ibênio.
Pois essas aí, como pombas, para nós,
que para Ortria levamos a capa
ao longo da noite imortal, como o Sírio
astro combatem enquanto se levantam.

Não é, com efeito, suficiente
a púrpura para a resposta,
nem a variegada serpente
toda ouro, nem mesmo a bandana
lídia, adorno
de jovens de olhos negros,
nem os cachos de Nano,
nem tampouco a divinal Areta,
nem Silaquis e Cleesisera;
nem irás até Ainesimbrota e dirás:
"Que Astafis se torne minha,
que olhe para mim Filila,
Damareta e a amada Iantemis."
Mas Hagesícora me consome.

De fato, a belos-tornozelos
Hagesícora, não está aqui;
de Agido fica perto
e nosso festejo louva.
Mas [suas preces][, deuses,]
recebei: dos deuses é a realização
e o fim. Posta-coro,
poderia dizer; eu mesma,
uma moça, do telhado grito em vão,
coruja; eu, porém, sobremodo Aótis
desejo agradar: das penas
torna-se-nos uma médica.
Deixando Hagesícora, as jovens
pisam na amada paz.


Pois ao cavalo da trilha
seme]lhante [
ao comandante é necessário
também na nau...
ela, que as Sirenas
mais melodiosa [não é,
pois são deusas; no lugar [de onze
moças, uma de[zena;
(ela) soa ... [sobre] as correntes do Xantos,
um cisne. Ela, com louros cachos desejáveis...

Calame:
  1. Hagesícora é a guia do coro; um pouco afastada do coro, está ao lado de Agido, que recebe seus favores e vai sair do coro, pois sua educação para a feminilidade terminou.
  2. Hagesícora cumpre uma função pedagógica em relação ao coro.
  3. Todo o coro admira Hagesícora e gostaria de estar no lugar de Agido.
  4. Os coreutas não estão lutando contra um coro rival.
  5. Agido e Hagesícora executam juntas um rito, talvez uma corrida, durante a execução.
  6. O ritual se dá no contexto de um culto a Helena (Orthria, Aotis).
  7. Rito no início do dia; provavelmente iniciação tribal.
  8. Os laços que ligam os coreutas à guia do coro tem uma valor institucional; têm por função a integração das jovens nas estruturas políticas da cidade. Função iniciática do coro.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Presságios na Odisseia: artigo

Saiu um artigo meu na revista História, imagem e narrativas sobre os dois presságios interpretados no canto 15 da Odisseia, um por Helena, o outro por Teoclímeno, os dois diante de Telêmaco.
O artigo, online, está em http://www.historiaimagem.com.br/edicao12abril2011/pressagiosodisseia-troia.pdf

Forma e conteúdo

Alguns textos que discutem os modos como foram percebidos os objetos poéticos na Grécia antes de Platão e Aristóteles.
FORD, A. (2002) The Origins of Criticism: Literary Culture and Poetic Theory in Classical Greece. Princeton; Oxford

LEDBETTER, Grace M. (2003) Poetics before Plato: Interpretation and Authority in Early Greek Theories of Poetry. Princeton: Princeton University Press

FORD, Andrew (1992) Homer: The Poetry of the Past. Ithaca – London: Cornell University Press

FINKELBERG, Margalit (1998) The Birth of Literary Fiction in Ancient Greece. Oxford: Oxford University Press

terça-feira, 12 de abril de 2011

Leituras: lírica, aula do dia 27 de abril

 As traduções dos epigramas estão na apostila de traduções (xérox); uma tradução dos epigramas de Simônides também pode ser achada no artigo de Robert de Brose mencionado em post anterior.
Abaixo, uma tradução do fragmento elegíaco Simônides 22 West 2. O texto e uma tradução em inglês podem ser encontrados no livro editado por Boedeker e Sider, mencionado na bibliografia:
](do) mar...
](‘particípio feminino’) caminho
] onde, ‘part. masc.’, percorr[
[                                                       ]
                                                    ]ria a viagem [                             5
] mundo/arranjo (poético: kosmos) de coroas-de-violetas
ao recinto de muitas árvores cheg[
] ilha brilhosa, adorno [
e filho de Eque[crátidas de louros cabelos
com os olhos, ] pegaria pela mão [                                        10
de sorte que a jovem flor de sua en[cantad]ora pele
verte das pálpebras desejável [saudade
e eu [ ] entre flores
reclinando, branc[ ] rugas
para as madeixas desejável recém-brotad[                              15
] de belas flores [ca[ntarei] desejável, soante [
movendo língua prec[isa]
[                                       ]
desses 20
altisson[ante
As interpretações mais comuns são:

Viagem real: o eu lírico imagina o amado viajando para uma ilha; um dos dois celebra a chegada.

Viagem escapista: Utopia + erótico. Elogio erótico que se conhece de outros fragmentos e poemas.

Viagem post-mortem: eu lírico talvez imaginando uma viagem para unir-se a Equecrátidas na ilha dos bem aventurados. Um deles ou ambos seria rejuvenescido. Tradição de que o poeta é alguém que pode contactar os mortos. Variação de Yatromanolakis: eu lírico feminino. Poema seria um treno.

Para uma excelente discussão crítica dessas interpretações, cf. BROSE, R. de (2008) "Simônides 22W2: lamento ou utopia?". Calíope 18: 84-104

domingo, 10 de abril de 2011

Simônides 1-22 West 2

Esses fragmentos dizem respeito a dois papiros e alguns testemunhos indiretos. A edição primeira do POxy 3965, feita por P. J. Parsons, é de 1992. Duas passagens coincidem com citações de Simônides feitas por Plutarco e Stobeu. Duas passagens também coincidem com o POxy 2327, editado por Edgar Lobel nos anos 1950, cujo texto até então era anônimo. Não sabemos quais fragmentos podem ser excluídos do poema da batalha do qual trata o fragmento principal, o 11 W2.

A bibliografia sobre os fragmentos já é bastante vasta. Cf. sobretudo o volume editado por Sider e Boedeker.

Para uma tradução do fragmento 11 e do 18, cf. o artigo de Robert de Brose com traduções de Simônides já citado neste blog.
Sobre o fragmento 22, veja, do mesmo autor, "Simônides 22W2: lamento ou utopia?". Calíope 18 (2008): 84-104.

Almas sem inteligência no Hades odisseico

Diz Circe para Odisseu no canto 10, 490-95:

Mas carece primeiro completar outra rota e ir
à morada de Hades e da atroz Perséfone
para a alma (psykhê) consultar do tebano Tirésias,
o adivinho cego, de quem o juízo (phrenes) é seguro;
para ele, embora morto, espírito (noos) deu Perséfone,
só ele inteligente (pepnysthai); sombras, os outros adejam.’

No canto seguinte, diz Aquiles a Odisseu (Od. 11, 475-76):

Como ousaste ao Hades descer, onde os mortos,
sem o juízo (aphradees), moram, espectros (eidôla) de mortais esgotados?’

sábado, 9 de abril de 2011

Teógnis 19-28 e 29-38

Embora Richard Rawles, na sua resenha no JHS do livro do Faraone de 2008, alerte que o caráter compósito do corpus de Teógnis torne problemática a tentativa de nele circunscrever stanzas elegíacas, a interpretação de que 19-28 e 29-38 componham duas stanzas compostas em correlação faz muito sentido: a primeira tem caráter descritivo e meditativo, a segunda, exortativo. Mais que isso, a segunda compõe os conselhos que o eu lírico recebeu quando menino, mencionados no último dístico da primeira stanza, e agora está repassando para seu menino, Cirno:

Cirno, ao exercer minha habilidade, seja sobreposto um selo
a esses versos, e nunca serão roubados sem se perceber,
ninguém aceitará um inferior em troca de um genuíno à mão,
e assim cada um dirá: ‘De Teógnis são os versos,
do megarense: tem nome entre todos os homens.’
Mas ainda não sou capaz de agradar a todos os cidadãos;
isso não é espantoso, Polypaida: nem Zeus
agrada a todos ao fazer cair a chuva ou contê-la.
Eu, benevolente, te aconselharei, tal como eu mesmo,
Cirno, ainda menino, dos valorosos aprendi.

Sê sensato, e nem com ações vergonhosas nem com injustas
angarie honras, sucessos ou riqueza.
Disso assim sabe; não te associes a vis
varões, mas sempre te prende aos valorosos.
Bebe com eles e coma, e com eles
senta, e agrada aqueles de quem o poder é grande.
Pois de nobres aprenderás coisas nobres; se a vis
te juntares, arruinarás a mente que tens.
Aprende isso e a valorosos te associa, e um dia dirás
que oriento bem meus amigos.

Teógnis 1-62

Abaixo, os primeiros 62 versos de Teógnis sem as separações entre supostos poemas ou trechos de poemas que dependem da intervenção do editor sobre o texto transmitido pelos manuscritos.



Ó senhor, filho de Leto, rebento de Zeus, de ti nunca
esquecerei ao iniciar e concluir,
mas sempre por primeiro, por último e no meio
cantarei: e tu, ouve-me e dê coisas boas.
Senhor Febo, quando a ti gerou a deusa, senhora Leto,
após tocar com esbeltas mãos a tamareira,
o mais belo dos imortais, no lago em forma de roda,
toda a Delos, imensa, encheu-se
do odor de ambrosia, a enorme Terra sorriu
e jubilou o profundo oceano acinzentado.
Ártemis mata-fera, filha de Zeus, a quem Agamêmnon
colocou quando rumo a Troia navegou com naus velozes,
ouça a mim, que rezo, e afasta as mortes vis:
para ti, deusa, isto é pequeno, para mim, grande.
Musas e Graças, filhas de Zeus, que um dia às bodas
de Cadmo foram e cantaram belo verso,
‘o que é belo, é caro; o que não é belo, não é caro’,
esse verso veio de bocas imortais.
Cirno, ao exercer minha habilidade, seja sobreposto um selo
a esses versos, e nunca serão roubados sem se perceber,
ninguém aceitará um inferior em troca de um genuíno à mão,
e assim cada um dirá: ‘De Teógnis são os versos,
do megarense: tem nome entre todos os homens.’
Mas ainda não sou capaz de agradar a todos os cidadãos;
isso não é espantoso, Polypaida: nem Zeus
agrada a todos ao fazer cair a chuva ou contê-la.
Eu, benevolente, te aconselharei, tal como eu mesmo,
Cirno, ainda criança, dos valorosos aprendi.
Sê sensato, e nem com ações vergonhosas nem com injustas
angarie honras, sucessos ou riqueza.
Disso assim sabe; não te associes a vis
varões, mas sempre te prende aos valorosos.
Bebe com eles e coma, e com eles
senta, e agrada aqueles de quem o poder é grande.
Pois de nobres aprenderás coisas nobres; se a vis
te juntares, arruinarás a mente que tens.
Aprende isso e a valorosos te associa, e um dia diras
que aconselho bem meus amigos.
Cirno, esta cidade está grávida, e temo que dê a luz a um varão
endireitador da nossa vil desmedida.
Esses cidadãos ainda são prudentes, mas os líderes
se voltaram a uma grande queda rumo à vileza.
Nunca a uma cidade, Cirno, bons varões destruíram,
mas quando apraz aos vis serem desmedidos,
aniquilam o povo e conferem sentenças aos criminosos
por conta de lucros privados e poder,
não espere que essa cidade muito tempo fique estável,
mesmo que agora jaza em muita tranquilidade,
quando estas coisas são caras a varões vis,
lucros que vem com vileza pública.
Pois disso origina-se discórdia, mortes intestinas de varões
e monarcas: que nunca isso agrade a essa cidade.
Cirno, esta cidade ainda é cidade, mas outro, o povo,
eles que antes nem costumes nem leis conheciam,
mas em torno das costelas couro de cabras usavam
e como cervos fora da cidade moravam.
Agora são valorosos, Polypaida; quem antes era distinto,
agora é reles. Quem suportaria ver isso?
Enganam-se mutuamente e riem uns dos outros,
não conhecendo as marcas dos vis nem dos valorosos.
Desses cidadãos, Polypaida, não tornes nenhum teu amigo
do peito por conta de alguma necessidade.

Teógnis: uma 'stanza' pederástica

Do 'Livro segundo' de Teógnis, v. 1341-50:

Aiai, apaixonei-me por um menino pele-macia, que a mim a todos
  meus amigos insiste em exibir, embora eu não queria.
Aguentarei a visibilidade; a muita coisa é-se forçado a contragosto.
  Pois não a um menino ultrajante revelou-se eu ter sido atrelado.
Amar meninos é um certo deleite, pois um dia por Ganimedes
  apaixonou-se também o Cronida, rei dos imortais,
raptou-o, rumo ao Olimpo o conduziu e fez dele
  divindade, que manteve a apaixonante flor da meninice.
Assim, não te admires, Simônides, que também eu
  revelei-me ter sido atrelado à paixão por um belo menino.

Repare na composição anelar no centro da qual está o exemplo mítico, recurso retórico bastante comum. Os mesmos verbos são repetidos antes e depois do exemplo. O último dístico contem um conselho, algo comum em várias das stanzas examinadas por Faraone (2008).

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O selo de Teógnis

Abaixo, uma nova versão da minha tradução dos versos 19-26 da 'Syllogê' mais os dois dísticos seguintes:

Cirno, ao exercer minha habilidade, seja sobreposto um selo
  a esses versos, e nunca serão roubados sem se perceber,
ninguém trocará um inferior por um genuíno à disposição,
  e assim cada um dirá: ‘De Teógnis são os versos,
do megarense: tem nome entre todos os homens.’
  Mas ainda não sou capaz de agradar a todos os cidadãos;
isso não é espantoso, Polypaida: nem Zeus
  agrada a todos ao fazer cair a chuva ou contê-la.

Eu, benevolente, te darei um conselho, tal como eu mesmo,
  Cirno, ainda criança, dos valorosos aprendi:
sê sensato, e nem com ações vergonhosas nem com injustas
  angarie honras, excelência ou riqueza.

Para uma defesa do conteúdo ético-político dos 'poemas', veja EDMUNDS, Lowell (1997) "The seal of Theognis”. In: ―; WALLACE, Robert W. (org.) Poet, Public, and Performance in Ancient Greece. Baltimore-London: Johns Hopkins University Press

[Pouco tempo para ser mais ativo no blog; isso vai perdurar até a Páscoa.]

terça-feira, 5 de abril de 2011

Como as folhas, assim os homens: Ilíada, canto 6

[Encontro entre um aliado troiano, o lício Glauco, e o super-herói Diomedes. Repare nas histórias embutidas que cada um utiliza (para se destacar diante do outro?)]

E Glauco, filho de Hipóloco, e o filho de Tideu
no meio de ambos se encontraram, sôfregos por pelejar.
Quando estavam próximos, indo um contra o outro,
àquele primeiro dirigiu-se Diomedes bom-no-grito:
"Quem és tu, distinto, entre os homens mortais?
De fato, nunca te vi na peleja engrandecedora
no início; mas agora vens bem na frente de todos
com tua audácia, pois lança sombra-longa aguentaste.
Filhos de infelizes com meu ímpeto topam.
Mas se como um dos imortais do páramo desceste,
eu não pelejaria contra deuses celestes.
Pois nem mesmo o filho de Drias, o forte Licurgo, não
muito tempo viveu, ele que brigou com deuses celestes;
ele, um dia, as amas de Dioniso, que estava em êxtase,
afugentou o mui sacro monte Nisa abaixo; elas todas junto
deixaram tombar adereços no chão, pelo homicida Licurgo
golpeadas com aguilhão bovino. Dioniso, amedrontado,
mergulhou na onda do mar, e Tétis no colo acolheu-o,
temeroso: forte tremor o tomou com o grito do varão.
Então odiaram-no os deuses de vida tranquila,
e o filho de Crono deixou-o cego; não mais muito tempo
viveu, pois detestaram-no todos os deuses imortais.
E eu não quereria pelejar contra deuses ditosos.
Se és um mortal dos que comem o fruto do solo,
vem mais perto para mais rápido chegar ao limite da ruína."
E a ele dirigiu-se o ilustre filho de Hipóloco:
"Animoso Tidida, por que perguntas a linhagem?
Tal como a linhagem das folhas também é a de varões.
Folhas, umas o vento joga no chão, e outras o bosque
em flor gera, e vem depois a estação primaveril;
assim a linhagem de varões cresce e então cessa.
Se queres também isso aprender para bem saberes
da nossa linhagem, muitos varões a conhecem:
há uma cidade, Éfira, no interior de Argos nutre-potro,
onde Sísifo vivia, ele que foi o mais arguto dos varões,
o Aiolida Sísifo; eis que ele a Glauco como filho gerou,
e Glauco gerou o impecável Belerofonte.
A ele os deuses beleza e encantadora virilidade
ofertaram; e Proitos armou-lhe vilezas no ânimo,
ele que, por ser muito superior, o expulsou da região
dos argivos: Zeus subordinara-os ao seu cetro.
Por ele apaixonou-se a esposa de Proito, divina Anteia,
para unir-se em amor secreto; mas a ele de modo algum
persuadiu, o bem-intencionado, aguerrido Belerofonte.
E ela uma mentira ao rei Proito disse:
‘Morras, Proito, ou mate Belerofonte,
que comigo quis unir-se em amor, eu não querendo’.
Assim falou, e a ele, o senhor, fúria tomou ao isso ouvir.
Matá-lo evitou, pois disso tinha pudor no ânimo,
enviou-o à Lícia e entregou-lhe sinais funestos
que riscara em uma tábua, muitos, tira-via;
ordenou-lhe que mostrasse a seu sogro para ser morto.
E ele foi à Licia sob a condução impecável de deuses.
Mas quando a Lícia atingiu e o Xantos corrente,
e a ele, solícito, honrava o rei da ampla Lícia:
nove dias o hospedou e nove bois sacrificou.
Mas quando, no décimo, surgiu Aurora dedos-róseos,
nisso indagou-lhe e pediu para ver o sinal
que do genro Proito consigo trouxera-lhe.
Depois que recebera o maligno sinal do genro,
por primeiro ordenou-lhe que a indômita Quimera
matasse: ela era de linhagem divina e não dos homens,
na frente, leão, atrás, serpente, no meio, cabra,
soprando o fero ímpeto do fogo chamejante,
e a ela matou, confiante nos prodígios dos deuses.
Por segundo, combateu os majestosos solimos:
o combate com varões mais duro, dizia, no qual entrou.
Por terceiro, matou as Amazonas vale-homem.
Ao voltar, contra ele teceu outro truque cerrado:
escolheu, da ampla Lícia, os melhores heróis
e montou uma tocaia. Eles de volta à casa não retornaram.
De fato, a todos matou o impecável Belerofonte.
Mas ao reconhecer que era nobre rebento de um deus
lá mesmo o reteve, ofertou-lhe sua filha
e deu-lhe a honraria da realeza, metade de toda.
E os lícios separaram-lhe um domínio, superior aos outros,
belo, com pomar e lavoura, para que dela dispusesse.
E ela gerou três crianças para o aguerrido Belerofonte,
Isandro, Hipóloco e Laodameia.
Junto à Laodameia deitou-se o astuto Zeus,
e ela gerou o excelso Sarpédon elmo-brônzeo.
Mas quando também ele foi odiado por todos os deuses,
então ele pela planície Vaga, sozinho, vagou,
comendo seu ânimo, evitando a senda dos homens;
a Isandro, seu filho, Ares, insaciável na guerra,
matou ao combater os majestosos solimos;
Àquela, encolerizada, matou Ártemis rédea-dourada.
E Hipóloco me gerou, e dele afirmo originar-me.
Enviou-se a Troia e, com insistência, me impôs
sempre ser excelente e proeminente entre os outros
e não vexar a família dos antepassados, os melhores
disparado que foram em Éfira e na ampla Lícia.
desse linhagem e sangue proclamo ser."

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Mimnermo

1 W (7 G-P)
E que vida, que deleite sem dourada Afrodite?
  Que eu morra quando disto não mais me ocupar,
escondido amor, amáveis dons e a cama,
  como flores da juventude, são atraentes
a varões e mulheres; mas quando vem a dolorosa
  velhice, feio ela torna até mesmo belo varão,
sempre molestam seu juízo vis preocupações
  e não se deleita vislumbrando o brilho do sol,
mas é odioso aos meninos e sem honra para as mulheres:
  assim aflitiva tornou a velhice o deus.

2 W (8 G-P)

Nós, tal folhas que gera a multifloreada estação,
  primavera, quando de pronto crescem com raios de sol,
iguais a elas, por um antebraço de tempo, com as flores da juventude
  deleitamo-nos, graças aos deuses não conhecendo nem mal
nem bem; as parcas ao lado estão postadas, negras,
  uma com a realização da velhice aflitiva,
a outra, com a da morte; dura pouco, da juventude,
  o fruto, enquanto sobre a terra se espraia o sol.
E quando essa realização da estação passar,
  de pronto estar morto é melhor que a vida.

Muitos males ocorrem no ânimo: ora de um a propriedade
  é consumida, e há os doloridos feitos da pobreza;
ora outro tem carência de filhos, os quais muitíssimo
  deseja ao descer da terra rumo ao Hades;
outro tem uma doença tira-vida. Não existe nenhum
  homem para quem Zeus não dá muitos males.