segunda-feira, 14 de maio de 2012

A cultura do “symposion”: Oswyn Murray [“Companion to archaic Greece”]


[Excelente e agradável texto pelo grande especialista no assunto.]

O “symposion” (=S), junto com o ginásio e o circuito de jogos em festivais internacionais, foi o foco da aristocracia na Grécia arcaica. Depois do trabalho seminal de J. Burckhardt, só no final dos anos 60, o S começou a ser mais estudado para se entender a relação entre os costumes ligados a um modo de beber e certos gêneros líricos. Igualmente importante foi o estudo iconográfico de vasos cujo uso principal, altamente sofisticado (humor, piadas visuais, trocadilhos), se dava no ambiente do S; aliás, poesia e arte visual precisam ser estudadas em conjunto, pois faziam parte de um todo no ambiente do S. Por fim, os arqueólogos identificaram um aposento especial para essas festas masculinas, o “andron”.

As funções da poesia grega envolviam instrução e divertimento. A elegia arcaica era o foco principal para discursos descritivos, normativos e exortativos (*militar). Agendas políticas diversas em Sólon, Teógnis e Alceu. De forma geral, a lírica coral está associada a festivais religiosos, a monódica, ao S.

Os vasos eram os seguintes: cratera (misturar vinho e água; dois tamanhos básicos: 7 e 14 litros); ânfora e hydra (continham a bebida); jarros diversos para servir; taças em diversas formas para beber. Algumas taças, muito grandes para beber, devem ter sido penduradas como decoração.

O “andron” variava de tamanho dependendo do número de sofás (7-11-15). Próximo da rua e longe dos aposentos das mulheres.

Regras básicas: reclinavam-se apoiados no cotovelo esquerdo, nunca mais de 2 por sofá (“kline”), olhando da esquerda para a direita ao longo das paredes. Um simposiarca ou basileus dirigia as atividades do S., sobretudo a medida da combinação água-vinho e o tipo de entretenimento. Mulheres respeitáveis nunca estavam presentes. Total separação entre a refeição (deipnon) e a ocasião de beber.

Origem: em Homero, há um tipo de banquete que parece exclusivo da aristocracia, dos líderes, ou seja, distinto da refeição ligada a práticas sacrifíciais. O S é uma continuação, mas com influência de práticas luxuosas orientais.

Rituais de consumo: o modo mais comum de diluição devia deixar o teor alcoólico semelhante àquele da cerveja; a qualidade da bebida não era alta. Vinho não diluído era deixado para deuses e heróis, considerado algo bárbaro (Filipe e Alexandre da Macedônia tomavam-no puro). Embora uma finalidade do S fosse autocontrole, há muitas histórias e representações de descontrole nos vasos. O mobiliário era a expressão máxima de luxo (almofadas; sofás ricamente adornados). “A arte mesma da conversação, especialmente sobre temas literários e filosóficos, encontra seu habitat e sua mais alta expressão no symposion” (p. 517).

Diversões: as composições poéticas no início do período arcaico eram feitas por membros integrais do S.; profissionalismo começa a aparecer a partir de 550, quando os poetas parecem usar a sua arte para participar das reuniões da elite em localidades distintas. Jogos que exigiam determinadas habilidades; danças executadas por profissionais; o penetra, que deveria, como uma espécie de bobo, entreter os hóspedes.

A intimidade entre os simposiastas levava à uma união fora dos ditames da polis e dos laços familiares.

Escravas participam como musicistas, dançarinas ou, mais comumente, como hetairas, cortesãs, não prostitutas (já se disse que o único esporte coletivo grego é o sexo), com frequência altamente treinadas. Práticas homoeróticas são comuns, especialmente aquelas envolvendo aspectos paidêuticos entre o erastês e o eromenos, ambos nobres, mas também mais ligeiras, para as quais o hóspede usava um menino escravo, que realizava suas funções no S nu. Não é por acaso, portanto, que as descrições literárias do S (o Banquete de Platão, por ex.) enfatizam o sexo e o desejo.

Komos: era uma espécie de procissão ritual de alcoolizados pela cidade, um modo do S ultrapassar as fronteiras do privado. Envolvia violência ritualizada contra passantes inocentes. O mais famoso episódio individual foi a mutilação de Hermai em Atenas em 415.

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