quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Poemas hesiódicos: questão da recuperação

A questão é a seguinte: compare o uso do tema da guerra na 'Teogonia' e em 'Trabalhos e dias'.
IMPORTANTE: a recuperação deve ter entre 4-5 páginas. Trabalhos fora da especificação terão nota descontada; saber condensar faz parte do aprendizado. O modo de entrega deste trabalho é aquele descrito no programa e já utilizado nas duas provas. Obedeça o PRAZO (cf. programa): trabalhos fora dele não serão aceitos SOB NENHUMA HIPÓTESE. O prazo é extenso: são 3 semanas.

Aula de quarta-feira, 23: Hesíodo e sintaxe

Em vista dos acontecimentos pela manhã, não darei aula à noite. Fica mantida a data de entrega do trabalho de Poemas hesiódicos. Não aceitarei, em nenhuma hipótese, entrega fora do prazo; nenhuma justificativa será levada em conta, pois o tema do trabalho já foi informado há várias semanas. INFORMAREI o tema da RECUPERAÇÃO no blog assim que tiver corrigido os trabalhos e colocado as notas no júpiter; afixarei as notas na 2a feira se puder entrar no prédio.
Quanto à turma de sintaxe, sugiro que leia com calma, talvez de preferência nas férias, o capítulo sobre orações relativas, principalmente o modo como o autor utiliza a noção de 'oração rel. autônoma'. Disponho-me a responder, de agora até o fim das férias, por email, a qualquer dúvida que tiverem sobre o desenvolvimento do tema no capítulo em questão.
Sinto muito que os cursos tenham que terminar dessa forma triste.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Adendo (final do semestre)

Em primeiríssimo lugar, lembro que a mãe das assembleias capciosas é Odisseia, canto 2, e a mãe das paralisações indevidas é aquela feita pelos pretendentes na casa de Odisseu. Sabemos como essa história termina.

Sei que talvez esteja colocando o carro na frente dos bois, mas, como são só 3 semanas de aula que restam, acho que é necessário.

Como não darei aula em dezembro, em primeiro lugar, em caso de assembleias e decisões por paralisação que impossibilitem toda e qualquer aula em novembro, quero deixar claro que não prejudicarei ninguém que aderir a elas. Vale aquilo que postei no último email e:
- Hesíodo: o trabalho deverá ser entregue no prazo; ele será corrigido de acordo com aquilo que foi possível discutir em aula;
- sintaxe: vale o que está no último post. Se não for possível dar nenhuma aula normalmente (ou seja, em caso de assembleias e paralisações), a nota da última prova, a terceira, será 10 para todo mundo, em vista do esforço geral que os alunos demonstraram até agora.

Em segundo lugar, mesmo em caso de assembleias e paralisação, estarei, todas as quartas-feiras, manhã e noite (começando por amanhã, dia 9), na Letras para dar aula. Nesse caso, como espero já estar claro, as aulas não serão obrigatórias em vista da correção da prova. Só não estarei na Letras para dar aula se ficar concretizado o impedimento de ir e vir como o que ocorreu hoje, dia 8.

Final do semestre

Desde já, gostaria de comunicar que o cronograma das minhas disciplinas será mantido, mas que nenhum aluno que está em dia com suas obrigações será prejudicado.
Alunos de sintaxe: se, e somente se, não for possível dar aula dia 08 de novembro, não haverá a última prova e a nota da terceira prova será proporcional à presença em sala de aula (nas aulas que permitirem que tenhamos até o dia 23), ou seja, quem assistir todas as aulas restantes terá nota 10 na terceira prova. Isso não alterará o modo de calcular a média do semestre informado no programa.
Alunos de Hesíodo: fica mantido o trabalho para a data informada no programa. Se, e somente se, não for possível dar aula dia 08 de novembro, serei menos rigoroso na correção.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Poemas hesiódicos: 2a questão ('Trabalhos e dias')

Entre os versos 1 e 202 do poema, escolha uma ou mais passagens e discuta de que forma nela(s) são desenvolvidos os temas do trabalho e da justiça.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Pilhar ou plantar

 
O gênero de vida pelo qual a persona cretense assumida por Odisseu diante de Eumeu (Odisseia 14, 216-28) diz ter optado é aquele que o poeta dos "Trabalhos e dias" caracteriza negativamente em oposição àquele que gostaria que seu irmão escolhesse:

Por certo audácia me deram Ares e Atena,
e força rompe-batalhão. Quando escolhesse para tocaia
varões excelentes, males aos inimigos engendrando,
nunca o ânimo orgulhoso pressentiu minha morte,
mas, após bem na frente saltar, com a lança matava,
dos varões inimigos, quem me recuasse com os pés.
Esse era eu na guerra; e o cultivo (ergon) não me era caro
e o senso doméstico que cria radiantes crianças,
mas sempre as naus com remos foram-me caras,
guerras, dardos bem polidos e flechas,
funestos, que para os outros horripilantes são.
Mas isso era-me caro, o que o deus no juízo pôs;
cada varão se deleita em lidas (erga) distintas.

sábado, 8 de outubro de 2011

notas: poemas hesiódicos

As notas foram enviadas por email; favor não o responder. Mais sobre a correção na próxima aula, final de outubro. Quem não foi informado de sua nota, favor enviar um email para o meu hotmail.

domingo, 2 de outubro de 2011

Hino cultual e 'Trabalhos e dias' versos 1-10

Veja o hino-prece feito pelo sacerdote Crises após ser desonrado por Agamêmnon em 'Ilíada 1, 35-43':

Então afastou-se e, insistente, rezou o ancião
ao senhor Apolo, a quem gerou Leto bela-coma:
"Ouve-me, arco-prateado, tu que por Crises zelas
e pela numinosa Cila e a Tenedos reges com poder;
Esminteu: se uma vez, um agrado, te cobri a morada
ou se uma vez te queimei gordas coxas
de touros e cabras, para mim cumpri este desejo:
paguem os dânaos minhas lágrimas com teus projéteis."
Assim falou, rezando, e o ouviu Febo Apolo.

Trabalhos e dias: distribuição dos versos

aula 1: versos 1-105
aula 2: 106-286
aula 3: 287-380
aula 4: 366-617
aula 5: 618-828

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

'Magia no mundo grego antigo'

Trata-se da tradução de um excelente livro publicado pelo especialista em poesia e religião grega Derek Collins. O livro foi originalmente publicado pela Blackwell.
Sobre a edição brasileira, confira http://www.novasaber.com.br/listaprodutos.asp?idloja=4836&idproduto=1993439&q=Magia+no+Mundo+Grego+Antigo%3Cbr%3E280+P%E1ginas%3Cbr%3EDerek+Collins

domingo, 18 de setembro de 2011

Tifeu: Anatólia, Ilíada e Teogonia

Não só os trechos da 'Teogonia', mas também a 'Ilíada' (abaixo, canto 2, v. 780-85, símile marcando o início da marcha dos aqueus), sustentam uma influência do mito hitita da luta da Serpente (Illuyankas) contra o deus-Tempestade sobre a épica grega:

E eles íam como se toda a terra fosse pastada por fogo:
Terra embaixoi gemia como sob Zeus prazer-no-raio
ao irar-se quando em volta de Tifeu fustigou Terra
entre os arimos, onde dizem ser o leito de Tifeu –
assim, sob os pés deles, forte gemia a terra
ao irem...

Acerca disso, cf. WATKINS, Calvert (1995) How to kill a dragon: aspects of Indo-European poetics. New York: Oxford University Press

sábado, 10 de setembro de 2011

ἄλλοτε δ' ἀλλοῖος Ζηνὸς νόος αἰγιόχοιο

e que, acho, é relativamente comum em ático (é-o em Eurípides) e sempre causa problemas (pra quem dela não se lembra). Veja que se abrirem o verbete allote ou, acho, mesmo allos num bom dicionário, vão encontrar várias expressões similares, ou seja, com dois termos em all- all- coordenados.
Verso 483 dos 'Trabalhos e dias' de Hesíodo, volta e meia reapropriado posteriormente.

Posto ela, na verdade, pela expressão que a abre

Via de regra, a expressão terá que ser traduzida por pelo menos 4 palavras em português, geralmente usando 'um... outro...'.
A tradução é algo como:

'ora [-te é temporal!!!] de um jeito [o -oi- do segundo all-] ora de outro é o espírito de Zeus porta-égide'

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Prova

Ao contrário do informado no "programa", o aluno poderá OPTAR entre os temas abaixo. Ressalto que não é obrigatória a utilização de bibliografia secundária.

Comente o par de opostos "força" e "astúcia" nos mitos de sucessão na Teogonia.

OU

Em relação ao chamado "proêmio" do poema, comente a) o movimento executado pelas Musas no andamento imagético do trecho, qual seja, do Hélicon para o Olimpo, b) o papel de Zeus e c) os diferentes resumos dos cantos das Musas. Repare que o "proêmio", aparentemente, "inicia" quatro vezes (vv. 1, 35, 53, 104).

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Sintaxe das orações subordinadas: trabalho

Todo aquele que quiser melhorar sua nota da primeira prova pode fazer o seguinte trabalho: analisar e traduzir as 10 primeiras orações subordinadas do diálogo 'Íon', de Platão, com base na análise feita em Rijksbaron 2007 (recomenda-se a utilização do comentário de Rijksbaron ao diálogo para o trabalho). As 10 frases referem-se a toda e qualquer subordinada, não apenas àquelas vistas em aula até a data de entrega do trabalho (ou seja, inclui condicionais, temporais, relativas, etc.). Os trabalhos devem ser individuais e entregues impreterivelmente na aula do dia 14 de setembro. Quem não puder ir à aula naquele dia deverá entregar o trabalho por email até dia 13; só serão aceitos trabalhos com caracteres gregos em fonte unicode.
A nota da prova, para quem fizer o trabalho, será a média harmônica entre as duas notas, trabalho e prova.
Esse trabalho valerá UNICAMENTE para a primeira prova. Um trabalho complementar às outras provas nesse formato  só será decidido após a realização das mesmas.

sábado, 20 de agosto de 2011

"Árvore da vida"

Belíssimo filme, é uma 'teogonia' + 'trabalhos e dias' (a 1a parte do poema) contemporânea. Não deixem de assistir - no cinema.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Enuma Elis: mito babilônio da criação

Outro relato oriental que deve ser posto em paralelo com a 'Teogonia' [resumo abaixo igualmente baseado em Woodward]

No início somente existiam Apsu (masc.; água doce) e Tiamat (fem.; água salgada). Geram-se alguns pares de deuses até o nascimento de Anu que, por sua vez, gera Ea ("mestre de seus antepassados"). Essas gerações mais recentes comportam-se de forma estridente e perturbam Tiamat. A tentativa dos deuses mais velhos destruírem os mais jovens fracassa: Apsu é morto, e Ea torna-se pai de Marduk, um sr perfeito, que supera todos os deuses anteriores.

Volta a haver conflitos e prepara-se uma guerra, para a qual monstros são criados por Tiamat. Marduk, com a ajuda dos ventos, derrota o poderoso grupo ofensivo após negociar com seus aliados a supremacia sobre todos. Os inimigos são presos e Tiamat é parcialmente aniquilada, parcialmente dividida em duas partes: com uma parte cria os ceús, que enche de astros, com o restante, elementos da terra (montanhas, Eufrates e Tigre etc.). Marduk torna-se rei e planeja a construção de sua cidade e a criação da humanidade.

Mitos de soberania no céu e a Teogonia

[o resumo abaixo é baseado em WOODWARD, Roger D. (2007) "Hesiod and Greek myth" In: WOODWARD, Roger D. (org.) The Cambridge companion to Greek mythology. Cambridge: Cambridge University Press]

O mito hurro-hitita da soberania no céu

Lido em tábuas de barro. As tábuas são hititas, mas os mitos, hurros (povo não indo-eur.), com presença de divindades mesopotâmicas. Trata-se de várias canções. Abaixo, duas delas:

Canção de Kummarbi: Alalu é rei do céu. Depois de nove anos, é deposto por Anu, seu copeiro; foge para a ‘terra negra’. Mais 9 anos, e aquele também é deposto por seu copeiro, Kumarbi, filho de Alalu. Anu foge para o céu, mas é pego por Kumarbi, que morde os genitais de Anu. Tendo engolido seu sêmen, Kumarbi é impregnado com muitos dos descendentes de Anu (Tessub e outros). Esses filhos então ‘nascem’. Durante o parto, Kumarbi chama Ea (deus mesopotâmio da sabedoria) pedindo para comer seu filho (Tessub, deus da tempestade). Texto fragmentário, mas uma pedra também tem um papel. Final fragmentário, provavelmente narrando a ascensão de Tessub.

Canção de Ullikummi: quando começa, Kummarbi está armando um plano contra Tessub. O usurpador é gerado através da cópula de Kummarbi com uma rocha enorme. Nasce um filho de pedra, chamado Ullikummi, que, ao nascer, é levado para os ínferos ("Terra Negra") por um grupo de deuses arregimentados pelo pai. Lá ele é fixado ao ombro direito do gigante Ubelluri, que carrega terra e céu. Cresce rápido e se torna um gigante de proporções cósmicas. Tessub e os outros deuses tentam em vão se livrar do gigante. Isso começa a mudar quando, auxiliado por Ea, Ullikummi é cortado fora do ombro de Ubelluri. O final da canção foi perdido, mas provavelmente narrava a vitória final de Tessub.
Duas famílias se sucedem nessas histórias Alalu-[Anu]-Kumarbi-[Tessub]. De forma geral, divindades celestiais contra ínferas.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Poesia grega arcaica, 'Hino homérico a Apolo' e a memória

Assim começa o "Hino homérico a Apolo":

Que eu lembre e não ignore Apolo alveja-de-longe,
ele a quem temem os deuses ao entrar na casa de Zeus:
tão logo ele se aproxima deles, saltam
todos dos assentos quando estira o ilustre arco.
Leto é única que fica ao lado de Zeus prazer-no-raio,
vê, ela pendurou o arco e fechou a aljava;
após dos seus ombros fortes com as mãos o pegar,
pendura o arco contra a coluna do pai dele
no gancho de ouro e leva-o e o assenta em poltrona.
Para ele néctar deu o pai em taça doutrada,
brindando o caro filho, e depois os deuses restantes;
lá se sentam, e alegra-se a augusta Leto
porque pariu um filho porta-arco e vigoroso.

Sobre a memória na época arcaica grega, cf.

VERNANT, J.-P. (2002) "Aspectos míticos da memória". In: Mito e pensamento entre os gregos. Rio de Janeiro: Paz e Terra
BAKKER, E. (2002) "Remembering the god's arrival". Arethusa 35: 63-81 [em parte, uma análise dos versos acima]

MORAN, William S. (1975) "Μιμνήσκομαι and ‘remembering’ epic stories in Homer and the Hymns". QUCC 20: 195-211

Hermes, a invenção da lira e uma teogonia

[Hermes seduz Apolo com um canto que acompanha na recentemente inventada lira: "Hino homérico a Hermes", 418-33]

... e a lira na mão direita,
com o plectro experimentava escala afinada; sob a mão
ela ecoava tremendamente, gargalhava Febo Apolo
com júbilo, atravessou seu juízo a amável rajada
da prodigiosa música, e doce desejo o agarrou
no ânimo ao ouvir. Tocava a lira amavelmente
e, com coragem, pôs-se à esquerda, o filho de Maia,
de Febo Apolo, e logo, tocando de forma aguda,
proclamava um prelúdio, e seguia-lhe a voz amável,
dando autoridade aos deuses imortais e à lúgubre terra
como primo surgiram e cada um granjeou sua porção.
Memória foi o primeiro deus que honrou com o canto,
a mãe das Musas, a quem foi atribuído o filho de Maia;
aos outros, por idade e como nasceram cada um,
aos deuses imortais honrou o radiante filho de Zeus,
narrando tudo pela ordem, soando a lira sob o braço.

Nestor na Ilíada: um rei de Belavoz (Calíope)

[A atuação de Nestor no canto 1 da 'Ilíada' corresponde à descrição do rei abençoado pelas Musas na 'Teogonia']

Assim falou o Pelida, lançou no chão o cetro
transpassado com cravos dourados e sentou-se,
e o Atrida, do outro lado, em cólera. Entre eles Nestor
doce-palavra pulou, o soante orador dos pílios,
de cuja língua fluia voz mais doce que o mel.
Já viu duas gerações de homens mortais
perecerem, no passado com ele criadas e nascidas
na mui sacra Pílos, e entre os terceiros era o senhor.

Refletindo bem, entre eles tomou a palavra e disse:
"Incrível, que grande aflição atinge a terra aqueia.
Sim, jubilariam Príamo e os filhos de Príamo
e outros troianos muito se comprazeriam no ânimo
se de vós, que combateis, tudo isso soubessem,
vós que superais os dânaos no plano e na luta.
Porém obedecei; ambos sois mais novos que eu.

Já uma vez, eu me reuni com varões até melhores
que vós, e nunca eles me menosprezaram.
Nunca mais vi varões assim nem verei,
tais eram Peirítoo e Dryas, pastores de tropas,
Caineu, Exádio e o excelso Polifemo,
e Teseu, filho de Egeu, semelhante aos imortais.
Como superiores aos varões terrestres foram criados;
superiores eram e contra superiores combateram,
contra feras montesas, e de forma terrível as destruíram.
Pois então, com eles me reuni ao vir de Pilos,
de longe, terra distante, pois eles mesmos me chamaram,
e eu combati sozinho: contra aqueles nenhum
mortal terrestre que hoje vive combateria.
A meus planos atentavam e obedeciam ao discurso.

Mas obedecei também vós, pois obedecer é melhor.
Nem tu, embora sejas valoroso, dele tome a moça,
mas deixa como primo lhe deram a mercê os filhos de aqueus;
nem tu, Pelida, queiras brigar com o rei,
encarando-o, já que nunca partilha honra similar
o rei porta-cetro, para quem Zeus dá majestade.
Se tu és mais vigoroso, deusa te gerou como mãe,
mas ele é superior pois de maior número é senhor.
Atrida, tu, cessa teu ímpeto; quanto a mim,
suplico que largues a raiva por Aquiles, que, para todos
os aqueus é grande muro contra batalha danosa."

‘Teogonia’ 84-92 e ‘Odisseia’ 8, 166-77

[Diz Odisseu ao jovem feácio que o provocara]

Estranho, não falaste bem; varão iníquo pareces.
Certo, os deuses não conferem graças a todo
varão, nem físico, nem juízo, nem eloquência.
De fato, um, na aparência, é varão mais débil,
mas o deus com a formosura coroa suas palavras; outros
deleitam-se em mirá-lo, e ele fala de forma segura,
com amável respeito, destaca-se na aglomeração
e, ao se deslocar na urbe, como a um deus o miram.
Já outro, quanto à aparência, é semelhante a imortais,
mas a graça envolvente não coroa suas palavras:
assim também tua aparência é proeminente – e outra
nem um deus a faria –, mas na mente não és sagaz.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Teogonia, primeiro verso: o performer e as Musas

Para começar a pensar o primeiro verso da ‘Teogonia’ [‘Pelas Musas do Hélicon iniciemos o canto’], é necessária uma comparação com duas passagens homéricas, ambas delimitando uma oposição entre narrador/performer (aedo) e público da apresentação:

Narrai-me agora, Musas que têm casas olímpias –
pois vós sois deusas, estais presentes e sabeis tudo,
e nós só relato ouvimos e nada sabemos –
quem eram os líderes dos dânaos e os chefes.
A multidão eu não vou enunciar nem especificar,
nem se minhas fossem dez línguas, dez bocas tivesse,
voz inquebrável, e dentro tivesse coração de bronze,
exceto se as Musas Olímpicas, de Zeus porta-égide
as filhas, lembrarem-se de quantos a Ílion vieram.
os capitães das naus direi e a totalidade das naus.
(Ilíada 2, 484-93)

Do varão me narra, Musa, do muitas-vias, que muito
vagou após a sacra cidade de Troia devastar.
De muitos homens viu urbes e a mente conheceu,
e muitas aflições sofreu ele no mar, em seu ânimo,
tentando granjear sua vida e o retorno dos companheiros.
Nem assim os companheiros salvou, embora ansiasse:
pela sua própria iniquidade pereceram,
ingênuos, que de todo as vacas de Sol Hipérion
comeram. Esse, porém, tirou-lhes o dia do retorno.
De um ponto daí, deusa, filha de Zeus, fala também a nós.
(Odisseia 1, 1-10)

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Antecipação ou prolepse

"O sujeito de uma oração subordinada é amiúde antecipado e tornado o objeto do verbo da oração principal. Essa transferência, que dá um lugar proeminente para o sujeito da oração subordinada, é chamado de antecipação ou prolepse." (Smyth, GG, prg. 2182)

Assim, em Rijksbaron 132, o μιν é um caso de prolepse - como notado na turma da noite pela aluna (... a completar no dia em que chegarem as listas).

Redobro

No caso duplicação regular (verbos que iniciam por uma consoante simples, exceto 'ρ', ou com oclusiva + líquida), há as seguintes exceções:

1. verbos que iniciam por γν, a maioria dos que inicia por γλ e alguns por βλ (ἔγνωκα);

2. uma inicial aspirada é duplicada pela equivalente sem aspiração.

Em todos os outros casos o redobro é como o aumento.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Cânone 'épico' e os ensinamentos dos poetas

Tradições vinculadas a quatro poetas que compuseram em versos hexamétricos e que, na Atenas do século V, formavam um cânone, são mencionados pela personagem Ésquilo nas 'Rãs' de Aristófanes (1030-36):

Nisso carece que trabalhem os poetas. Observa como desde o início,
tornaram-se úteis os poetas, os nobres.
Pois Orfeu ensinou-nos os ritos e a abstinência de assassinatos,
Museu, a cura de doenças e também oráculos, Hesíodo,
o cultivo da terra, as estações dos frutos, colheitas; e o divino Homero,
pelo que teve honra e glória, se não por ter ensinado coisas úteis
posicionamentos, ações excelentes e modos de armar-se dos guerreiros?

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Prova substitutiva: épica e lírica

De acordo com o 'programa' das disciplinas, a prova substitutiva seria realizada dia 29 de junho se algum aluno tivesse entrado em contato, via email, com uma justiticativa pertinente. Como não recebi nenhum email, as provas não foram realizadas.

sábado, 25 de junho de 2011

Bibliografia: sintaxe, livros em francês

Nos próximos dias, vou publicar no blog a bibliografia do curso de sintaxe das orações subordinadas, que não será muito extensa. Não conheço nenhum título em francês mais recente sobre o tema. Sei que há colegas que gostam da gramática do Ragon, mas nunca consultei. Acho que é uma gramática prática, com nomenclatura tradicional.

Uma obra em francês que conheço é "La syntaxe de Pindare", de Pascale Hummel. Os trabalhos mais conhecidos e utilizados são, de fato, em inglês e alemão. Há uma escola holandesa bastante importante que, em parte, escrevia em francês (Ruijgh, por exemplo: "Autour du 'te' épique", que, na verdade, é uma sintaxe) mas hoje escreve apenas em inglês. Um contemporâneo do Ruijgh, Moorhouse, que também estudou com o francês Chantraine, escreveu em inglês uma sintaxe do Sófocles ("The syntax of Sophocles"). Para outros artigos ou monografias em francês, consulte a bibliografia do livro do Rijksbaron.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Épica - noturno - notas

Alex S. 6,5
Anderson M.L. 7,5
Anderson R. S. 8,0
Athos V. 9,0
Bruno B 8,5
Camila B 8
Daniel F 10
Daniela C S 8
Denise C C 6,5
Diana 7
Eduardo 9,5
Flavio 8
Gabriela 9
Giuliano 7
Guilherme 8
Leonardo C 9
Leonardo R 8,5
Leonardo O 6
Lucas 5
Marta 7,5
Mauricio 6,5
Mayara 7,5
Newton 8
Raphael 7
Regina 9
Samira 7,5
Tarcisio 8,5
Tatiana 5

Épica - diurno - notas

Alanna 7
Alexandre 8
Amanda 5,5
Ana 5,5
Caroline 5
Christoffer 5
Denis 8,5
Eduardo 6,5
Erika 8
Fernando 6
Giovanna C 5
Guilherme 5,5
Iaci 7
Isis 7
Janaína 7
Jefferson 8,5
Julia 7,5
Julia 8,5
Juliana 9,5
Leandro 7
Luiz 7,5
Paulo 10
Rafael 8,5
Rebeca 9
Renan 7,5
Thais 9
Tomas 7
Wanderley 7
Wilma 6

Lirica noturno - notas

Andreia 6
Augusto 7
Beatriz 7
Carmen 7,5
Davi 8
Eliana 5,5
Felipe C A 10
Felipe P S 8
Giovanna 7
Giuliano 5
Gustavo 5
Luana 7,5
Luiz Guilherme 8,5
Maria 7
Newton 8,5
Renata 7
Ricardo 6
Walter 7

Lirica-diurno-notas

Barbara 10
Domenica 6,5
Eda 7,5
Fernanda C 7
Fernanda B 7
Jefferson 5
José 7,5
Juliana 9,5
Luiz 5
Raphael 8,5
Renata 6,5
Tatiane 6
Tiago 10

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Sintaxe das orações subordinadas

Na primeira parte do semestre, as aulas serão baseadas muito de perto no seguinte livro:

RIJKSBARON, Albert (2002) The Syntax and Semantics of the Verb in Classical Greek. 3a. ed. Chicago-London: The Chicado University Press

Trata-se de um livro que vale muito a pena ter. Há diversos exemplares na biblioteca; solicitou-se que um deles fosse colocado na coleção didática.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Prova: lírica e épica

Os fragmentos/poemas que poderão cair na prova de lírica são:

Arquíloco 172-181 West; Tirteu 12 West; Mimnermo 1 West; Teógnis; Safo: 16 Voigt; Baquílides 5; Píndaro: Olímpica 3

Os cantos da Odisseia selecionados para a prova são:

5, 6, 8, 11, 13, 18, 19, 22, 24

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Simpósio, vitória, celebração e epinício

A ‘Nemeica 9’ (que, aliás, não comemora uma vitória nos jogos neméicos!) celebra a vitória de Crômio, de Etna, na corrida de carros nos jogos píticos de Síkyon.

Evelyne Krummen (1990: 229) nota que, no poema, ‘kômos’ (celebração ou procissão comemorativa), anúncio da vitória e hospitalidade estão ligadas desde o início. Trata-se do tema da chegada, comum em um epinício.

Marchemos em celebração (kômasomen), Musas, desde Apolo em Síkyon
até Etna recém-fundada, onde, escancaradas
as portas estão cheias de hóspedes,
em direção à afortunada casa
de Crômio. Mas produzi um doce hino de palavras.

A marcha obviamente é impossível, pois eles já estão em Etna. Mais adiante, no final do poema, em arco com o seu início, nova referência ao contexto de performance:

A tranquilidade estima
o simpósio; recém-florida, cresce
a ocasião da vitória com o canto macio.
Junto à cratera, corajoso torna-se o som.
Alguém o misture, doce anunciador da celebração (‘kômos’),
e nos vasos de prata distribua o violento
filho da videira, os que um dia as éguas ganharam para Crômio
e levaram junto com as correto tecidas
coroas do filho de Leto
desde a sacra Síkyon. Zeus pai,
rezo para bradar esta excelência
com as Graças e, melhor que os muitos, honrar com louvores
a vitória, atirando mui próximo do alvo das Musas.

Nesse trecho (seguindo Krummen p. 228-29) coroas (símbolo da vitória conquistada em Síkyon), vinho e tranquilidade pertencem ao simpósio (da vitória). Aqui, a menção da ‘celebração’ (‘kômos’) tem a função especial de ligar musicalmente o local da vitória (Síkyon) e o lugar onde a celebração ocorre, a cidade do vitorioso (Etna), uma passagem (uma espécie de retorno) também tematizada no início do poema.

Templo grandão: a performance da O. 3

Um espaço provável – e notável! – para a apresentação original da ‘Olímpica 3’ é o templo de Zeus (Olympeion) em Ákragas, o maior templo dórico do mundo grego.

Para uma defesa desse cenário, cf.:

PAVLOU, Maria (2010) "Pindar Olympian 3: mapping Akragas on the periphery of the earth". CQ 60: 313-26

Para infos sobre o templo, cf. na Wikipedia 'Temple of Olympian Zeus (Agrigento)'

Lírica: última aula (dia 15)

Nessa aula, faremos uma análise do poema 'Olímpica 3' de Píndaro. Se ainda der tempo, discutirei definições de peã e ditirambo.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Poemas hesiódicos: 2o semestre de 2011

No xérox já estão disponíveis alguns textos em português para a disciplina que ministrarei no próximo semestre, inclusive as traduções dos dois poemas que serão lidos, 'Teogonia' e 'Trabalhos e dias'.

Não verifiquei se as traduções que estão no xerox são bilíngues. No Brasil, bilíngue, há uma tradução da 'Teogonia' (Jaa Torrano) e da primeira parte dos 'Trabalhos' (Mary Lafer), ambas da editora Iluminuras. Há vários exemplares dos dois livros na biblioteca, mas ambos podem ser encontrados nas livrarias. Há uma excelente tradução bilíngue recente em inglês de todo o corpus hesiódico feita por Glenn Most; são dois volumes pela coleção Loeb (Harvard University Press).

Como faremos, de forma geral, uma leitura verso a verso (talvez não de toda a 2a parte dos 'Trabalhos') dos poemas em sala de aula, ou seja, será um andamento diferente do meu curso sobre a 'Odisseia', sugiro que os alunos de grego providenciem edições bilíngues.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Regressão épica: um exemplo

O narrador começa com o tema da história, a ira de Aquiles, e, resumidamente, recua até o instante inicial que a gerou; a partir daí, conta a sua história para frente:


A cólera canta, deusa, do Pelida Aquiles,                             E
a nefasta, que aos aqueus milhares de aflições impôs,
muitas almas altivas para Hades remessou,
de heróis, e deles mesmos fez presas para cães,
para aves, banquete (e completava-se o desígnio de Zeus),
sim, desde que, primeiro, brigaram e romperam                  D
o Atrida, senhor de varões, e o divino Aquiles.
Pois que deus lançou-os na briga para pelejarem?                C
O filho de Leto e Zeus; ele, com raiva do rei,
doença no exército instigou, nociva, e perecia a tropa
porque a Crises, o sacerdote, desonrou                                B
o Atrida. Ele veio às velozes naus dos aqueus                       A
para libertar a filha trazendo resgate sem fim,
tendo nas mãos a grinalda de Apolo lança-de-longe
no alto do cetro dourado, e suplicou a todos os aqueus,
sobretudo aos dois Atridas, ordenadores de tropas:
"Atridas e demais aqueus belas-grevas...

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Píndaro: epinícios

Os versos iniciais de alguns epinícios pindáricos (se é que todos foram percebidos como epinícios na sua 1a performance):

Pítica 1:
Doirada lira, de Apolo e das cachos-violeta
Musas legítima posse comum: a ela ouve
o passo, início do júbilo,
e obedecem os cantores às notas
quando de proêmios guia-coro
acordes iniciais produzes, brandindo.

Pítica 2:
Ó megalópole, Siracusa, templo
de Ares fundo-na-guerra, nutriz divina
de varões e cavalos prazer-no-ferro,
para vós da reluzente Tebas levando esta
música venho, mensagem da quadriga sacode-a-terra,
na qual dominou Ierão vitorioso-no-carro
e coroou Ortígia com coroas longe-brilhante,
sede de Ártemis fluvial: não sem ela
aquelas jovens éguas rédea-variegada
com mãos suaves domaste.

Pítica 3:
Gostaria que Quirão, filho de Filira –
se carece nossa língua essa
palavra proclamar, comum –,
estivesse vivo, ele que já partiu,
broto de Crono amplo-domínio, filho de Urano,
e que, nos vales, regesse o Pélion a fera agreste
com espírito amigo de varões; como tal, um dia criou
o artífice de cura
fortifica-membro, gentil Asclépio,
herói defensor contra doença de todo o tipo.

Pítica 6
Ouvi: sim, o campo de Afrodite I
olhar-luzente ou das Graças
de novo aramos no retumbante umbigo
da terra após chegar no templo:
pelo pítica vitória, lá aos afortunados Emenidas,
à ribeirinha Ácragas e, sim, à Xenócrates
pronto tesouro de hinos no muito-ouro,
apolíneo vale foi erigido

Olímpica 2
Hinos regentes da lira,
que deus, que herói, que homem cantaremos?
Quanto a Pisa, é de Zeus. As Olimpíadas
Héracles fundou,
primícias da guerra.
E Terão, devido à quadriga traz-vitória,
deve-se proclamar, justo no respeito a estrangeiros,
bastião de Ácragas,
suprassumo apruma-urbe de ancestrais de bom nome.

Olímpica 3
Que aos hospitaleiros Tindaridas agrade
e à Helena de bela-coma,
isso rezo, a gloriosa Ácragas honrando,
ao erguer hino a Terão pela olímpica
vitória, suprassumo vindo de cavalos
com pés infatigáveis. Por isso a Musa, sim, junto a
mim esteve ao achar um modo lustre-novo
de na dórica sandália encaixar a voz

Ístmica 1
Minha mãe, Tebas escudo-doirado, o teu
interesse acima da falta de tempo
porei. Que comigo não se indigne a rochosa
Delos, à qual me lancei.
O que é mais caro aos bons que pais devotados?
Cede, Apolônia: com deuses
atrelarei a realização de duas graças,

Ístmica 2
Esses varões de antanho,
Trasíbulo, que no carro
das Musas diadema-doirado entravam
cooperando com a lira gloriosa,
rápido disparavam cantos melífluos nos jovens,
quando um, sendo belo, tinha a prazerosa
madureza que evoca Afrodite de bom trono.

Nemeia 1
Exalação venerável do Alfeu,
broto da venerável Siracusa, Ortígia,
leito de Ártemis,
irmã de Delos, de ti o canto
palavra-doce se lança para instaurar
grande elogio
aos cavalos pé-de-vento em benefício do Zeus do Etna;
e o carro de Crômio e os Nemeios me impelem,
a atrelar, para feitos porta-vitória, música encomiástica.

Nemeia 3
Ó senhora Musa, mãe nossa, suplico-te:
no sacro mês Nemeio à de muitos hóspedes
vem, à ilha dória de Egina; pois junto à água
do Asopis aguardam os jovens artífices
de cortejos melífluos, desejosos de tua voz.
Cada ação tem sede de algo distinto,
a vitória atlética sobremodo ama o canto,
o mais destro camarada de coroas e excelências:
dá abundância a partir da minha habilidade.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Píndaro, 'Olímpica 1', início

Ode para Hiêron; compare o início dela com o início de Baquílides 5, onde tudo imediatamente gira em torno de Hiêron:

O melhor é a água, e o ouro, chamejante fogo,
destaca-se à noite, supremo na riqueza senhoril;
se por disputas entoar
anseias, caro coração, não mais procures, que o sol,
outra coisa diurna mais quente, radiante astro no céu vazio,
nem digamos haver competição mais forte que em Olímpia.
De lá o mui falado tema de canto coroa
os engenhos de sábios para proclamarem
o filho de Crono, após chegarem ao rico,
o abençoado fogo-lar de Hiêron...

terça-feira, 24 de maio de 2011

Anacreonte de novo

388

Antes com velho gorro, touca apertada,
dados de madeira nas orelhas e em torno das costelas
um [couro] pelado de boi,
a capa não lavada de um escudo ruim, com padeiras,
putas circulando o miserável Artêmon,
descobrindo uma vida fraudulenta,
amiúde pôs o pescoço no tronco, amiúde, na roda,
amiúde açoitado nas costas por látego de couro, a cabeleira
e barba arrancadas.
Mas agora vai de liteira usando brincos dourados,
o filho de Cuce, e usa um guarda-sol de marfim
como as mulheres...

395

Grisalhas já estão minhas
têmporas e a cabeça, branca,
e juventude graciosa não mais
presente, os dentes, velhos,
e da doce vida não mais
muito tempo me resta.
Por isso soluço,
amiúde temendo o Tártaro,
pois do Hades é assombroso
o recesso, e, até ele, cruel
a descida: de fato, é certo
que quem desce não sobe.

396

Traze água, traze vinho, ó menino, traze-nos coroas
de flores; traze para que eu boxeie com Eros

398

Os dados de Eros são
loucuras e tumultos.

400

De novo junto a Pitomandro
me escondi, fugindo de Eros

402c

Por causa dos discursos os meninos deveriam amar-me:
coisas graciosas eu canto, e graciosas sei dizer.
 
407

Vamos, brinda-me,
querido, com tuas coxas macias.

413

Com grande, Eros de novo me golpeou como um ferreiro,
com machado, e banhou-me em torrente invernal.

417

Potra trácia, por que de mim,
de soslaio com os olhos mirando,
impiedosamente foges e crês
que não conheço a técnica?
Sabe que belamente em ti
eu a brida poria,
e, tendo as rédeas, te faria rodar
em torno da meta da corrida.
Mas agora pastas os prados
e brincas saltitando levemente:
um destro domador
não tens para te montar.

424

E o tálamo no qual esse aí não desposou mas foi desposado

Anacreonte

347

e da cabeleira, ela que teu luxuriante
pescoço sombreava;
Agora tu estás tosquiado,
e ela caiu em esquálidas
mãos, exuberante, sobre a negra
poeira jorrou,
miseravelmente com o corte do ferro
tendo-se batido. Já eu, angústias
me torturam: o que alguém fará,
se nem pela Trácia se conseguiu?
Ouço que se lamenta
a mulher famosa
e que amiúde diz isso,
responsabilizando sua sorte:
"Como eu ficaria bem, mãe,
se levando a mim, no implacável
mar lançasses, tempestuoso,
com ondas púrpuras
[...]

348

Suplico-te, flecheira de corças,
loura filha de Zeus, senhora
das feras agrestes, Ártemis:
Suponho que agora junto aos redemunhos
do Letaios olhas para a cidade
de homens coração-destemido
e te comprazes: não são selvagens
os cidadãos que apascentas.

356

a) Eia, traze pra nós, menino,
uma cratera, para, de um só gole,
eu beber, e verte dez medidas
de água e cinco de vinho,
para, com decoro,
eu ser de novo bacante.

b) Eia, nunca de novo assim,
com estrondo e gritaria,
o modo cita de beber o vinho
pratiquemos, mas com belos
cantos, moderamente bebendo.

357

Ó senhor, com o qual Eros subjugador,
Ninfas de olhos escuros
e Afrodite púrpura
brincam em conjunto, percorres
os elevados picos das montanhas,
suplico-te: tu, benevolente,
venha até nós e minha
prece graciosa escuta.
De Cleobulo torna-te um bom
conselheiro: que ele meu amor
receba, Dioniso.

358

De novo a mim com bola púrpura
alvejando, o cabeleira-dourada Eros
com menina sandália-variegada
desafia-me a brincar.
E ela – com efeito, é da bem feita
Lesbos –, a minha cabeleira,
branca, de fato, critica,
e abre a boca para outra.

359

Cleóbulo eu amo,
por Cleóbulo estou louco,
Cleóbulo fico encarando.

360

Ó menino com olhar de uma virgem,
procuro-te, e tu não percebes,
não sabendo que da minha
alma és o auriga.

373

De café da manhã, parti um bocado de fino bolo,
bebendo uma jarra de vinho; agora, em luxo, desejável
harpa dedilho, festeando ao lado da querida †menina delicada†

378

Vôo rumo ao Olimpo com leves asas
por causa de Eros: comigo não quer compartilhar a juventude

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Simônides 542 PMG

A tradução de Simônides 542 PMG que deixei no xérox segue a reconstiuição canônica, aquela, por ex., de Hutchinson 2001.
A tradução abaixo, porém, segue a reconstituição de Beresford:
BERESFORD, Adam (2008) "Nobody's perfect: a new text and interpretation of Simonides PMG 542". CP 103: 237-56

Esse novo texto foi o adotado por Denyer no seu recente comentário ao Protágoras platônico (2008).
Não pude checar a edição de Poltera de 2008.

Para um homem, tornar-se verdadeiramente valoroso
é difícil – nas mãos, nos pés e no espírito,
feito um quadrado, construído sem mácula.
Somente um deus teria esse privilégio. A um homem
não é possível ser não vil
quando o destrói irremediável desgraça.
Todo homem, se está bem, é valoroso,
vil, se está mal[, e aqueles
que os deuses amam
mais são os melhores.]

Mas para mim não com justeza o dito de Pítaco
soa, embora por um sábio varão fa-
lado: disse que é difícil ser valoroso.
[Para mim é suficiente] ele não ser mau de todo
e conhecedor da justiça lucrativa para a cidade,
um homem saudável. A ele eu não
criticarei, pois dos estúpidos
a linhagem é infinita.
Todas as coisas são belas
às quais nada de feio está misturado.

Por isso eu nunca, buscando o que não
se torna possível, rumo à vã esperança
ineficaz, lanço porção de vida,
um homem de todo irreprochável entre tantos quantos
tomamos o fruto da terra espaçosa.
Mas após achar, vos anunciarei.
Eu louvo e amo todo
que, de bom grado, faz nada
de feio; a necessidade
nem os deuses combatem.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Não haverá aula hoje, 18 de maio

Por razões de doença, não darei aula hoje. A matéria prevista para hoje será dada na próxima aula, de forma condensada, em conjunto com aquela prevista para o dia 25.
Peço desculpas por não ter avisado antes.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Estesícoro fr. 222 Davies: uma cena em Tebas

Jocasta (?) reagindo a uma previsão de Tirésias e dirigindo-se aos filhos, Polinices e Etéocles:

(...)
Em adição às dores, não produzas aflições duras
nem a mim, para o futuro,
anuncies expectativas pesadas.

Não para sempre, algo contínuo,
fixam os deuses imortais na terra sagrada
rixa permanente para os mortais,
nem, por certo, amor. Para um dia o espírito dos homens
os deuses fixam.
Que tuas previsões o senhor Apolo age-de-longe
não realize todas.

Se que veja meus filhos subjugados um pelo outro
está destinado, e as Moiras fiaram,
de pronto para mim a realização, a morte odiosa, ocorra
antes de um dia ver estas coisas,
†às dores,† [ações] plenas de gemidos e lágrimas,
os filhos no palácio
mortos ou a cidade conquistada.

Vamos, aos meus discursos, filhos car[os, atendei,
como para vós eu a realização anunc[io:
um, tendo a casa, habite [a urbe gloriosa de Cadmo,
e o outro parta, com gado
e ouro, todo aquele do caro [pai,
quem quer que, tirando a sorte,
for o primeiro devido às Moiras.

Isso, eu penso,
poderia ser vossa salvaguarda da desdita
de acordo com o aviso do divino adivinho,
se o Cronida [protegeria] a nova geração e a cidade
do senhor Cadmo,
postergando longamente o mal [que em torno de Tebas
foi determinado oco[rr]er."

Assim falou a divina mulher, expondo com discursos suaves,
no palácio [cess]ando a rixa dos filhos,
com ela Tirésias dos-[presságios], e eles [atenderam
(...)

Nesta minha tradução, só traduzi o trecho menos danificado do fragmento, incorporando vários suplementos defendidos por Bremer em J. M. BREMER (1987) "F Stesichorus: The Lille papyrus". In: BREMER, J. M.; ERP TAALMAN KIP, A. Maria; SLINGS, S. R. (org.) Some recently found Greek poems: Text and commentary. Leiden

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Alceu e o vinho: fr. 346 Voigt

Bebamos. Esperar as lâmpadas, por quê?
É breve o dia. Traze-nos, amor,
as grandes taças multicores. Quando o filho
de Zeus e Sêmele nos deu o vinho,
fê-lo para esquecermos nossas penas.
Põe duas partes de água, uma de vinho:
Encham-se as taças até a beira,
e sem demora siga-se uma taça a outra.

Tradução de Ramos (1964), Poesia grega e latina, apud G. Ragusa, Lira, mito e erotismo, p. 90.

Safo 16 Voigt

Alguns homens, tropa de cavaleiros, outros, de combatentes a pé,
outros, de navios, dizem, sobre a negra terra,
ser o mais belo, mas eu, aquilo que
alguém deseja.

É fácil de todo tornar compreensível
isto para cada um: ela, em muito ultrapassando
em beleza os homens, Helena, o marido,
maximamente ex]celso,

abandonou e foi para Tróia navegando,
e nem do filho nem dos pais queridos
absolutamente se lembrou, mas seduziu-a
...

... pois...
levemente...
e lembrou-me de Anactória,
que não está presente.

Preferiria, dela, o desejável caminhar
e a brilhante faísca de sua face ver
a os carros lídios e, com armas,
... combatentes.

Para alguns intérpretes, é bem possível que o poema tivesse terminado no verso 20. Mesmo que não tenha sido esse o caso (como defende Bierl, infra), os 12 versos seguintes que foram transmitidos pelo papiro estão quase que totalmente ilegíveis.
A melhor análise que conheço do poema é:

BIERL, Anton (2009) " ‘Ich aber (sage), das Schönste ist, was einer liebt!’ Eine pragmatische Deutung von Sappho Fr. 16 LP/V". Versão on-line http://chs.harvard.edu/wa/pageR?tn=ArticleWrapper&bdc=12&mn=1166; 1a publicação em QUCC 74.2, 2003 [apresentação de algumas interpretações e interpretação seguindo a sequência do poema]

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Tirania: Elke Stein-Höhlkeskamp (Companion Archaic Greece)

Rápida passada de olhos pelos comentários derrogatórios dos sécs. 5-4, sobretudo Platão e Aristóteles. Em seguida, estudos de caso:

Corinto: rica e economicamente muito ativa no séc. 8. Cipselo assumiu o poder em 660, derrubando a família dos Baquíades (que tinha se mostrado incompetente militar e diplomaticamente), aristocratas que dominavam as melhores terras. A queda da família parece ter sido ocasionada por um golpe de parte da elite que não tinha espaço de atuação devido aos Baquíades, cujas terras não devem ter sido distribuídas ao povo após o golpe, mas divididas entre os nobres vitoriosos.
Manufatura e comércio floresceram sob Cipselo. Riquíssimas oferendas em Delfos e Olímpia indicam o desejo do tirano de demonstrar seu poder em centros panhelênicos, indicando ser importante ao tirano "apresentar-se, através de um comportamento adequado ao seu status, como um membro aceito de uma comunidade de culto que transcendia poleis individuais" (p. 103).
Governou por 30 anos e foi sucedido pelo filho Periandro, o protótipo do tirano maligno e cruel. Curiosamente, às vezes encontrava-se em listas dos 7 sábios. Problemas de fontes dificultam dizer algo com mais precisão. Participação regular nos festivais em Olímpia; árbitro de conflito entre Atena e Mitilene. Leis para restringir a suntuosidade na autoapresentação da elite. Grandes obras. Após 3 anos, seu sucessor foi eliminado por um golpe aristocrático.

Síkyon: tirania de Ortágoras (de família não aristocrática?) a partir de 650. Fontes variam na avaliação dos tiranos.
Clístenes distinguiu-se como general. Conflito militar com Argos para cortar os laços com a cidade. Entre as medidas, proibição de récitas homéricas, pois glorificam heróis de Argos; abolição de coros em honra de Adrasto, herói argivo, que, como fundador de Síkyon, era cultuado na cidade; Melânipo, herói tebano, passou a ser cultuado em seu lugar. Seus ossos foram transferidos de Tebas, o que "representou uma notável interferência na memória coletiva dos sikyônios e uma alteração substancial na topografia sacra e monumental da cidade" (p. 105).
Reforma tribal: pairam dúvidas sobre ela. Medida fundamentalmente militar ou socio-política? Provavelmente, uma das intenções era diminuir conflitos internos. Participação nos grandes festivais panhelênicos, onde os aristocratas podiam encontrar seus pares, exibir sua riqueza e excelência e alcançar reconhecimento público em um foro mais amplo. Casamento de sua filha (Heródoto livro 6), uma história que mostra que os tiranos, no período arcaico, estavam intimamente ligados à aristocracia.

Megara: Tirania de Teágenes contemporânea àquelas em Sikyon e Corinto. Provavelmente da elite aristocrática. Aristóteles o caracteriza com um líder que usa o ódio contra os ricos para conquistar a massa.

Samos: estabelecida em 538 por Polícrates; durou até 522. Da oligarquia aristocrática. Conta-se que tomou o poder durante o festival de Hera. Possível que a maioria da população tenha ficado satisfeita com o fim do poder do grupo oligárquico dos Geomoroi. Medidas para diminuir o poder desses aristocratas. Demolição das palaistrai (jovens). P. passa a monopolizar todas as oportunidades para conquistar glória, riqueza e poder. Controle de rotas no Mediterrâneo oriental (thalassokratia). Extenso programa construções públicas numa cidade que já era rica. Aqueduto sob a acrópole; templo de Hera (ainda era considerado o maior templo grego já construído no sec. V: 55 x 112 m). Projetos para ganhar a solidariedade dos cidadãos (p. 110). Numerosas campanhas militares e emprendimentos aventureiros. Construiu uma esplêndida casa para si. "Nas práticas culturais e na autoapresentação, o tirano basicamente operava nos padrões tradicionais da sociedade aristocrática." Muitos cidadãos emigraram (Pitágoras), boa parte deles para a Itália, onde fundaram uma colônia no golfo de Nápoles. Enganado por um persa, foi morto na Magnésia.

Características comuns e padrões gerais
Tiranias ilustram a profunda polaridade entre o individual aristocrático e a comunidade da polis. Via de regra, representado como resultante da hybris dos aristocratas. Temos poucos dados para confirmar essa visão. Outro fator é a competição entre aristocratas e a pressão sobre o demos, levando muitas vezes à paralisação de instituições ainda sendo consolidadas. Poucas vezes o povo se envolveu com o processo. De fato, não deveria fazer diferença para ele um governo de um ou de muitos aristocratas. Nenhum dos tiranos acima colocou em ação uma reforma para beneficiar o povo. Apenas os aristocratas inimigos eram escanteados; a hierarquia social continuou. Também não reorganizaram as instituições da cidade. Todas as ações dos tiranos tinham o mesmo objetivo: consolidar o próprio poder na sua polis. Tirania não pode ser interpretada como uma alternativa à aristocracia. Quando as instituições da cidade se consolidaram, sobretudo a assembleia e o conselho, a tirania tornou-se obsoleta.

domingo, 1 de maio de 2011

Álcman: outro fragmento de um partênio (fr. 3 Davies; 26 Calame)

Musas O]límpicas, no meu peito
]canto
]escutar
]da voz,
]delas que hineiam belo canto                                 5
...
sono]doce dispersará das pálpebras
]e me conduz para ir à assembleia
onde sobre]modo a cabel[eira] loura brandirei;
]delicados pés                                                         10

...
[50 versos, provavelmente com conteúdo mítico]
...

com desejo solta-membros, de forma mais dissolvente
que o sono e a morte encara;                                 62
e não imoralmente ela é doce.

E Astumeloisa não me responde,
]segurando a guirlanda[                                         65
como] algum astro alado[
através do céu brilhante
ou broto dourado ou suave plu[ma
................................................
]atravessou com pés esguios                                    70
]graça úmida de Cinira
sobre a] cabeleira das jovens se põe:

A]stumeloisa através da multidão
]interesse caro ao povo
]após ela tomar                                                        75
]falo:
]de prata
]
]poderia ver se talvez [....] me amasse.
Mais per]to [vin]do, poderia pegar minha mão suave,  80
que logo [eu su]plicante sua me tornaria;

E agora [ ] menina com [ ]juízo
para as meninas[ ] ela que a mim tendo
]menina
]graça                                                                       85
...

sábado, 30 de abril de 2011

Álcman: "partênio do Louvre" (3 Calame 3; 1 PMGF)

Minha tradução segue de perto a interpretação de Claude Calame para o poema; após a tradução, os principais elementos de sua leitura ritual. Para outras traduções, cf. Ragusa 2010 (Lira, mito e erotismo; contém uma longa discussão do poema) e a de Frederico Lourenço (sem a parte inicial do fragmento, mais danificada).


] Polydeukes.
Eu não]conto, entre os mortos, Lykaiso,
Ena]sforo, Sebros de pés ligeiros,
]o vigoroso,
] o combatente,
Euteikes], o senhor Areio,
], distinto entre os semideuses;

]o caçador
] grande e Eurito
] tumulto
] os melhores
] deixaremos de lado
] de todos, Destino
e Percurso,] os mais velhos,
des]calça defesa
que nenhum dos h]omens voe ao céu,
que nenhum t]ente desposar Afrodite
] a senhora, ou alguma
] ou a filha de ...co
Gr]aças, a morada de Zeus
] as de desejo no olhar;

]ssimos
] uma divindade
] amigos
] presentes
]
] a juventude destruiu
t]rono
em v]ão
] foi. Um deles com uma flecha
] com rocha brilhante
] no Hades
]
] . Inesquecíveis
feitos sofreram, após armarem vilezas.

Há uma vingança dos deuses:
é venturoso quem, atilado,
tece por completo o dia
sem chorar. Quanto a mim, canto
a luz de Agido; estou vendo-a
como o sol, que para nós
Agido convoca para brilhar
como testemunha. A mim, nem a louvá-la
nem vituperar a gloriosa guia do coro
absolutamente permite: ela mesma parece
destacar-se como se alguém,
entre o rebanho, fosse postar um cavalo
vigoroso, vitorioso, trovejante,
um daqueles sonhos alados [ou: ‘sob as pedras’].

Não vês? O corcel
é enético; já a cabeleira
da minha prima
Hagesícora floresce
como ouro puro.
O semblante prateado –
por que te conto claramente?
Ei-la, Hagesícora.
A segunda em beleza, Agido, atrás
vai correr, cavalo colaxeno contra um ibênio.
Pois essas aí, como pombas, para nós,
que para Ortria levamos a capa
ao longo da noite imortal, como o Sírio
astro combatem enquanto se levantam.

Não é, com efeito, suficiente
a púrpura para a resposta,
nem a variegada serpente
toda ouro, nem mesmo a bandana
lídia, adorno
de jovens de olhos negros,
nem os cachos de Nano,
nem tampouco a divinal Areta,
nem Silaquis e Cleesisera;
nem irás até Ainesimbrota e dirás:
"Que Astafis se torne minha,
que olhe para mim Filila,
Damareta e a amada Iantemis."
Mas Hagesícora me consome.

De fato, a belos-tornozelos
Hagesícora, não está aqui;
de Agido fica perto
e nosso festejo louva.
Mas [suas preces][, deuses,]
recebei: dos deuses é a realização
e o fim. Posta-coro,
poderia dizer; eu mesma,
uma moça, do telhado grito em vão,
coruja; eu, porém, sobremodo Aótis
desejo agradar: das penas
torna-se-nos uma médica.
Deixando Hagesícora, as jovens
pisam na amada paz.


Pois ao cavalo da trilha
seme]lhante [
ao comandante é necessário
também na nau...
ela, que as Sirenas
mais melodiosa [não é,
pois são deusas; no lugar [de onze
moças, uma de[zena;
(ela) soa ... [sobre] as correntes do Xantos,
um cisne. Ela, com louros cachos desejáveis...

Calame:
  1. Hagesícora é a guia do coro; um pouco afastada do coro, está ao lado de Agido, que recebe seus favores e vai sair do coro, pois sua educação para a feminilidade terminou.
  2. Hagesícora cumpre uma função pedagógica em relação ao coro.
  3. Todo o coro admira Hagesícora e gostaria de estar no lugar de Agido.
  4. Os coreutas não estão lutando contra um coro rival.
  5. Agido e Hagesícora executam juntas um rito, talvez uma corrida, durante a execução.
  6. O ritual se dá no contexto de um culto a Helena (Orthria, Aotis).
  7. Rito no início do dia; provavelmente iniciação tribal.
  8. Os laços que ligam os coreutas à guia do coro tem uma valor institucional; têm por função a integração das jovens nas estruturas políticas da cidade. Função iniciática do coro.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Presságios na Odisseia: artigo

Saiu um artigo meu na revista História, imagem e narrativas sobre os dois presságios interpretados no canto 15 da Odisseia, um por Helena, o outro por Teoclímeno, os dois diante de Telêmaco.
O artigo, online, está em http://www.historiaimagem.com.br/edicao12abril2011/pressagiosodisseia-troia.pdf

Forma e conteúdo

Alguns textos que discutem os modos como foram percebidos os objetos poéticos na Grécia antes de Platão e Aristóteles.
FORD, A. (2002) The Origins of Criticism: Literary Culture and Poetic Theory in Classical Greece. Princeton; Oxford

LEDBETTER, Grace M. (2003) Poetics before Plato: Interpretation and Authority in Early Greek Theories of Poetry. Princeton: Princeton University Press

FORD, Andrew (1992) Homer: The Poetry of the Past. Ithaca – London: Cornell University Press

FINKELBERG, Margalit (1998) The Birth of Literary Fiction in Ancient Greece. Oxford: Oxford University Press

terça-feira, 12 de abril de 2011

Leituras: lírica, aula do dia 27 de abril

 As traduções dos epigramas estão na apostila de traduções (xérox); uma tradução dos epigramas de Simônides também pode ser achada no artigo de Robert de Brose mencionado em post anterior.
Abaixo, uma tradução do fragmento elegíaco Simônides 22 West 2. O texto e uma tradução em inglês podem ser encontrados no livro editado por Boedeker e Sider, mencionado na bibliografia:
](do) mar...
](‘particípio feminino’) caminho
] onde, ‘part. masc.’, percorr[
[                                                       ]
                                                    ]ria a viagem [                             5
] mundo/arranjo (poético: kosmos) de coroas-de-violetas
ao recinto de muitas árvores cheg[
] ilha brilhosa, adorno [
e filho de Eque[crátidas de louros cabelos
com os olhos, ] pegaria pela mão [                                        10
de sorte que a jovem flor de sua en[cantad]ora pele
verte das pálpebras desejável [saudade
e eu [ ] entre flores
reclinando, branc[ ] rugas
para as madeixas desejável recém-brotad[                              15
] de belas flores [ca[ntarei] desejável, soante [
movendo língua prec[isa]
[                                       ]
desses 20
altisson[ante
As interpretações mais comuns são:

Viagem real: o eu lírico imagina o amado viajando para uma ilha; um dos dois celebra a chegada.

Viagem escapista: Utopia + erótico. Elogio erótico que se conhece de outros fragmentos e poemas.

Viagem post-mortem: eu lírico talvez imaginando uma viagem para unir-se a Equecrátidas na ilha dos bem aventurados. Um deles ou ambos seria rejuvenescido. Tradição de que o poeta é alguém que pode contactar os mortos. Variação de Yatromanolakis: eu lírico feminino. Poema seria um treno.

Para uma excelente discussão crítica dessas interpretações, cf. BROSE, R. de (2008) "Simônides 22W2: lamento ou utopia?". Calíope 18: 84-104

domingo, 10 de abril de 2011

Simônides 1-22 West 2

Esses fragmentos dizem respeito a dois papiros e alguns testemunhos indiretos. A edição primeira do POxy 3965, feita por P. J. Parsons, é de 1992. Duas passagens coincidem com citações de Simônides feitas por Plutarco e Stobeu. Duas passagens também coincidem com o POxy 2327, editado por Edgar Lobel nos anos 1950, cujo texto até então era anônimo. Não sabemos quais fragmentos podem ser excluídos do poema da batalha do qual trata o fragmento principal, o 11 W2.

A bibliografia sobre os fragmentos já é bastante vasta. Cf. sobretudo o volume editado por Sider e Boedeker.

Para uma tradução do fragmento 11 e do 18, cf. o artigo de Robert de Brose com traduções de Simônides já citado neste blog.
Sobre o fragmento 22, veja, do mesmo autor, "Simônides 22W2: lamento ou utopia?". Calíope 18 (2008): 84-104.

Almas sem inteligência no Hades odisseico

Diz Circe para Odisseu no canto 10, 490-95:

Mas carece primeiro completar outra rota e ir
à morada de Hades e da atroz Perséfone
para a alma (psykhê) consultar do tebano Tirésias,
o adivinho cego, de quem o juízo (phrenes) é seguro;
para ele, embora morto, espírito (noos) deu Perséfone,
só ele inteligente (pepnysthai); sombras, os outros adejam.’

No canto seguinte, diz Aquiles a Odisseu (Od. 11, 475-76):

Como ousaste ao Hades descer, onde os mortos,
sem o juízo (aphradees), moram, espectros (eidôla) de mortais esgotados?’

sábado, 9 de abril de 2011

Teógnis 19-28 e 29-38

Embora Richard Rawles, na sua resenha no JHS do livro do Faraone de 2008, alerte que o caráter compósito do corpus de Teógnis torne problemática a tentativa de nele circunscrever stanzas elegíacas, a interpretação de que 19-28 e 29-38 componham duas stanzas compostas em correlação faz muito sentido: a primeira tem caráter descritivo e meditativo, a segunda, exortativo. Mais que isso, a segunda compõe os conselhos que o eu lírico recebeu quando menino, mencionados no último dístico da primeira stanza, e agora está repassando para seu menino, Cirno:

Cirno, ao exercer minha habilidade, seja sobreposto um selo
a esses versos, e nunca serão roubados sem se perceber,
ninguém aceitará um inferior em troca de um genuíno à mão,
e assim cada um dirá: ‘De Teógnis são os versos,
do megarense: tem nome entre todos os homens.’
Mas ainda não sou capaz de agradar a todos os cidadãos;
isso não é espantoso, Polypaida: nem Zeus
agrada a todos ao fazer cair a chuva ou contê-la.
Eu, benevolente, te aconselharei, tal como eu mesmo,
Cirno, ainda menino, dos valorosos aprendi.

Sê sensato, e nem com ações vergonhosas nem com injustas
angarie honras, sucessos ou riqueza.
Disso assim sabe; não te associes a vis
varões, mas sempre te prende aos valorosos.
Bebe com eles e coma, e com eles
senta, e agrada aqueles de quem o poder é grande.
Pois de nobres aprenderás coisas nobres; se a vis
te juntares, arruinarás a mente que tens.
Aprende isso e a valorosos te associa, e um dia dirás
que oriento bem meus amigos.

Teógnis 1-62

Abaixo, os primeiros 62 versos de Teógnis sem as separações entre supostos poemas ou trechos de poemas que dependem da intervenção do editor sobre o texto transmitido pelos manuscritos.



Ó senhor, filho de Leto, rebento de Zeus, de ti nunca
esquecerei ao iniciar e concluir,
mas sempre por primeiro, por último e no meio
cantarei: e tu, ouve-me e dê coisas boas.
Senhor Febo, quando a ti gerou a deusa, senhora Leto,
após tocar com esbeltas mãos a tamareira,
o mais belo dos imortais, no lago em forma de roda,
toda a Delos, imensa, encheu-se
do odor de ambrosia, a enorme Terra sorriu
e jubilou o profundo oceano acinzentado.
Ártemis mata-fera, filha de Zeus, a quem Agamêmnon
colocou quando rumo a Troia navegou com naus velozes,
ouça a mim, que rezo, e afasta as mortes vis:
para ti, deusa, isto é pequeno, para mim, grande.
Musas e Graças, filhas de Zeus, que um dia às bodas
de Cadmo foram e cantaram belo verso,
‘o que é belo, é caro; o que não é belo, não é caro’,
esse verso veio de bocas imortais.
Cirno, ao exercer minha habilidade, seja sobreposto um selo
a esses versos, e nunca serão roubados sem se perceber,
ninguém aceitará um inferior em troca de um genuíno à mão,
e assim cada um dirá: ‘De Teógnis são os versos,
do megarense: tem nome entre todos os homens.’
Mas ainda não sou capaz de agradar a todos os cidadãos;
isso não é espantoso, Polypaida: nem Zeus
agrada a todos ao fazer cair a chuva ou contê-la.
Eu, benevolente, te aconselharei, tal como eu mesmo,
Cirno, ainda criança, dos valorosos aprendi.
Sê sensato, e nem com ações vergonhosas nem com injustas
angarie honras, sucessos ou riqueza.
Disso assim sabe; não te associes a vis
varões, mas sempre te prende aos valorosos.
Bebe com eles e coma, e com eles
senta, e agrada aqueles de quem o poder é grande.
Pois de nobres aprenderás coisas nobres; se a vis
te juntares, arruinarás a mente que tens.
Aprende isso e a valorosos te associa, e um dia diras
que aconselho bem meus amigos.
Cirno, esta cidade está grávida, e temo que dê a luz a um varão
endireitador da nossa vil desmedida.
Esses cidadãos ainda são prudentes, mas os líderes
se voltaram a uma grande queda rumo à vileza.
Nunca a uma cidade, Cirno, bons varões destruíram,
mas quando apraz aos vis serem desmedidos,
aniquilam o povo e conferem sentenças aos criminosos
por conta de lucros privados e poder,
não espere que essa cidade muito tempo fique estável,
mesmo que agora jaza em muita tranquilidade,
quando estas coisas são caras a varões vis,
lucros que vem com vileza pública.
Pois disso origina-se discórdia, mortes intestinas de varões
e monarcas: que nunca isso agrade a essa cidade.
Cirno, esta cidade ainda é cidade, mas outro, o povo,
eles que antes nem costumes nem leis conheciam,
mas em torno das costelas couro de cabras usavam
e como cervos fora da cidade moravam.
Agora são valorosos, Polypaida; quem antes era distinto,
agora é reles. Quem suportaria ver isso?
Enganam-se mutuamente e riem uns dos outros,
não conhecendo as marcas dos vis nem dos valorosos.
Desses cidadãos, Polypaida, não tornes nenhum teu amigo
do peito por conta de alguma necessidade.

Teógnis: uma 'stanza' pederástica

Do 'Livro segundo' de Teógnis, v. 1341-50:

Aiai, apaixonei-me por um menino pele-macia, que a mim a todos
  meus amigos insiste em exibir, embora eu não queria.
Aguentarei a visibilidade; a muita coisa é-se forçado a contragosto.
  Pois não a um menino ultrajante revelou-se eu ter sido atrelado.
Amar meninos é um certo deleite, pois um dia por Ganimedes
  apaixonou-se também o Cronida, rei dos imortais,
raptou-o, rumo ao Olimpo o conduziu e fez dele
  divindade, que manteve a apaixonante flor da meninice.
Assim, não te admires, Simônides, que também eu
  revelei-me ter sido atrelado à paixão por um belo menino.

Repare na composição anelar no centro da qual está o exemplo mítico, recurso retórico bastante comum. Os mesmos verbos são repetidos antes e depois do exemplo. O último dístico contem um conselho, algo comum em várias das stanzas examinadas por Faraone (2008).

quinta-feira, 7 de abril de 2011

O selo de Teógnis

Abaixo, uma nova versão da minha tradução dos versos 19-26 da 'Syllogê' mais os dois dísticos seguintes:

Cirno, ao exercer minha habilidade, seja sobreposto um selo
  a esses versos, e nunca serão roubados sem se perceber,
ninguém trocará um inferior por um genuíno à disposição,
  e assim cada um dirá: ‘De Teógnis são os versos,
do megarense: tem nome entre todos os homens.’
  Mas ainda não sou capaz de agradar a todos os cidadãos;
isso não é espantoso, Polypaida: nem Zeus
  agrada a todos ao fazer cair a chuva ou contê-la.

Eu, benevolente, te darei um conselho, tal como eu mesmo,
  Cirno, ainda criança, dos valorosos aprendi:
sê sensato, e nem com ações vergonhosas nem com injustas
  angarie honras, excelência ou riqueza.

Para uma defesa do conteúdo ético-político dos 'poemas', veja EDMUNDS, Lowell (1997) "The seal of Theognis”. In: ―; WALLACE, Robert W. (org.) Poet, Public, and Performance in Ancient Greece. Baltimore-London: Johns Hopkins University Press

[Pouco tempo para ser mais ativo no blog; isso vai perdurar até a Páscoa.]

terça-feira, 5 de abril de 2011

Como as folhas, assim os homens: Ilíada, canto 6

[Encontro entre um aliado troiano, o lício Glauco, e o super-herói Diomedes. Repare nas histórias embutidas que cada um utiliza (para se destacar diante do outro?)]

E Glauco, filho de Hipóloco, e o filho de Tideu
no meio de ambos se encontraram, sôfregos por pelejar.
Quando estavam próximos, indo um contra o outro,
àquele primeiro dirigiu-se Diomedes bom-no-grito:
"Quem és tu, distinto, entre os homens mortais?
De fato, nunca te vi na peleja engrandecedora
no início; mas agora vens bem na frente de todos
com tua audácia, pois lança sombra-longa aguentaste.
Filhos de infelizes com meu ímpeto topam.
Mas se como um dos imortais do páramo desceste,
eu não pelejaria contra deuses celestes.
Pois nem mesmo o filho de Drias, o forte Licurgo, não
muito tempo viveu, ele que brigou com deuses celestes;
ele, um dia, as amas de Dioniso, que estava em êxtase,
afugentou o mui sacro monte Nisa abaixo; elas todas junto
deixaram tombar adereços no chão, pelo homicida Licurgo
golpeadas com aguilhão bovino. Dioniso, amedrontado,
mergulhou na onda do mar, e Tétis no colo acolheu-o,
temeroso: forte tremor o tomou com o grito do varão.
Então odiaram-no os deuses de vida tranquila,
e o filho de Crono deixou-o cego; não mais muito tempo
viveu, pois detestaram-no todos os deuses imortais.
E eu não quereria pelejar contra deuses ditosos.
Se és um mortal dos que comem o fruto do solo,
vem mais perto para mais rápido chegar ao limite da ruína."
E a ele dirigiu-se o ilustre filho de Hipóloco:
"Animoso Tidida, por que perguntas a linhagem?
Tal como a linhagem das folhas também é a de varões.
Folhas, umas o vento joga no chão, e outras o bosque
em flor gera, e vem depois a estação primaveril;
assim a linhagem de varões cresce e então cessa.
Se queres também isso aprender para bem saberes
da nossa linhagem, muitos varões a conhecem:
há uma cidade, Éfira, no interior de Argos nutre-potro,
onde Sísifo vivia, ele que foi o mais arguto dos varões,
o Aiolida Sísifo; eis que ele a Glauco como filho gerou,
e Glauco gerou o impecável Belerofonte.
A ele os deuses beleza e encantadora virilidade
ofertaram; e Proitos armou-lhe vilezas no ânimo,
ele que, por ser muito superior, o expulsou da região
dos argivos: Zeus subordinara-os ao seu cetro.
Por ele apaixonou-se a esposa de Proito, divina Anteia,
para unir-se em amor secreto; mas a ele de modo algum
persuadiu, o bem-intencionado, aguerrido Belerofonte.
E ela uma mentira ao rei Proito disse:
‘Morras, Proito, ou mate Belerofonte,
que comigo quis unir-se em amor, eu não querendo’.
Assim falou, e a ele, o senhor, fúria tomou ao isso ouvir.
Matá-lo evitou, pois disso tinha pudor no ânimo,
enviou-o à Lícia e entregou-lhe sinais funestos
que riscara em uma tábua, muitos, tira-via;
ordenou-lhe que mostrasse a seu sogro para ser morto.
E ele foi à Licia sob a condução impecável de deuses.
Mas quando a Lícia atingiu e o Xantos corrente,
e a ele, solícito, honrava o rei da ampla Lícia:
nove dias o hospedou e nove bois sacrificou.
Mas quando, no décimo, surgiu Aurora dedos-róseos,
nisso indagou-lhe e pediu para ver o sinal
que do genro Proito consigo trouxera-lhe.
Depois que recebera o maligno sinal do genro,
por primeiro ordenou-lhe que a indômita Quimera
matasse: ela era de linhagem divina e não dos homens,
na frente, leão, atrás, serpente, no meio, cabra,
soprando o fero ímpeto do fogo chamejante,
e a ela matou, confiante nos prodígios dos deuses.
Por segundo, combateu os majestosos solimos:
o combate com varões mais duro, dizia, no qual entrou.
Por terceiro, matou as Amazonas vale-homem.
Ao voltar, contra ele teceu outro truque cerrado:
escolheu, da ampla Lícia, os melhores heróis
e montou uma tocaia. Eles de volta à casa não retornaram.
De fato, a todos matou o impecável Belerofonte.
Mas ao reconhecer que era nobre rebento de um deus
lá mesmo o reteve, ofertou-lhe sua filha
e deu-lhe a honraria da realeza, metade de toda.
E os lícios separaram-lhe um domínio, superior aos outros,
belo, com pomar e lavoura, para que dela dispusesse.
E ela gerou três crianças para o aguerrido Belerofonte,
Isandro, Hipóloco e Laodameia.
Junto à Laodameia deitou-se o astuto Zeus,
e ela gerou o excelso Sarpédon elmo-brônzeo.
Mas quando também ele foi odiado por todos os deuses,
então ele pela planície Vaga, sozinho, vagou,
comendo seu ânimo, evitando a senda dos homens;
a Isandro, seu filho, Ares, insaciável na guerra,
matou ao combater os majestosos solimos;
Àquela, encolerizada, matou Ártemis rédea-dourada.
E Hipóloco me gerou, e dele afirmo originar-me.
Enviou-se a Troia e, com insistência, me impôs
sempre ser excelente e proeminente entre os outros
e não vexar a família dos antepassados, os melhores
disparado que foram em Éfira e na ampla Lícia.
desse linhagem e sangue proclamo ser."