Rápida passada de olhos pelos comentários derrogatórios dos sécs. 5-4, sobretudo Platão e Aristóteles. Em seguida, estudos de caso:
Corinto: rica e economicamente muito ativa no séc. 8. Cipselo assumiu o poder em 660, derrubando a família dos Baquíades (que tinha se mostrado incompetente militar e diplomaticamente), aristocratas que dominavam as melhores terras. A queda da família parece ter sido ocasionada por um golpe de parte da elite que não tinha espaço de atuação devido aos Baquíades, cujas terras não devem ter sido distribuídas ao povo após o golpe, mas divididas entre os nobres vitoriosos.
Manufatura e comércio floresceram sob Cipselo. Riquíssimas oferendas em Delfos e Olímpia indicam o desejo do tirano de demonstrar seu poder em centros panhelênicos, indicando ser importante ao tirano "apresentar-se, através de um comportamento adequado ao seu status, como um membro aceito de uma comunidade de culto que transcendia poleis individuais" (p. 103).
Governou por 30 anos e foi sucedido pelo filho Periandro, o protótipo do tirano maligno e cruel. Curiosamente, às vezes encontrava-se em listas dos 7 sábios. Problemas de fontes dificultam dizer algo com mais precisão. Participação regular nos festivais em Olímpia; árbitro de conflito entre Atena e Mitilene. Leis para restringir a suntuosidade na autoapresentação da elite. Grandes obras. Após 3 anos, seu sucessor foi eliminado por um golpe aristocrático.
Síkyon: tirania de Ortágoras (de família não aristocrática?) a partir de 650. Fontes variam na avaliação dos tiranos.
Clístenes distinguiu-se como general. Conflito militar com Argos para cortar os laços com a cidade. Entre as medidas, proibição de récitas homéricas, pois glorificam heróis de Argos; abolição de coros em honra de Adrasto, herói argivo, que, como fundador de Síkyon, era cultuado na cidade; Melânipo, herói tebano, passou a ser cultuado em seu lugar. Seus ossos foram transferidos de Tebas, o que "representou uma notável interferência na memória coletiva dos sikyônios e uma alteração substancial na topografia sacra e monumental da cidade" (p. 105).
Reforma tribal: pairam dúvidas sobre ela. Medida fundamentalmente militar ou socio-política? Provavelmente, uma das intenções era diminuir conflitos internos. Participação nos grandes festivais panhelênicos, onde os aristocratas podiam encontrar seus pares, exibir sua riqueza e excelência e alcançar reconhecimento público em um foro mais amplo. Casamento de sua filha (Heródoto livro 6), uma história que mostra que os tiranos, no período arcaico, estavam intimamente ligados à aristocracia.
Megara: Tirania de Teágenes contemporânea àquelas em Sikyon e Corinto. Provavelmente da elite aristocrática. Aristóteles o caracteriza com um líder que usa o ódio contra os ricos para conquistar a massa.
Samos: estabelecida em 538 por Polícrates; durou até 522. Da oligarquia aristocrática. Conta-se que tomou o poder durante o festival de Hera. Possível que a maioria da população tenha ficado satisfeita com o fim do poder do grupo oligárquico dos Geomoroi. Medidas para diminuir o poder desses aristocratas. Demolição das palaistrai (jovens). P. passa a monopolizar todas as oportunidades para conquistar glória, riqueza e poder. Controle de rotas no Mediterrâneo oriental (thalassokratia). Extenso programa construções públicas numa cidade que já era rica. Aqueduto sob a acrópole; templo de Hera (ainda era considerado o maior templo grego já construído no sec. V: 55 x 112 m). Projetos para ganhar a solidariedade dos cidadãos (p. 110). Numerosas campanhas militares e emprendimentos aventureiros. Construiu uma esplêndida casa para si. "Nas práticas culturais e na autoapresentação, o tirano basicamente operava nos padrões tradicionais da sociedade aristocrática." Muitos cidadãos emigraram (Pitágoras), boa parte deles para a Itália, onde fundaram uma colônia no golfo de Nápoles. Enganado por um persa, foi morto na Magnésia.
Características comuns e padrões gerais
Tiranias ilustram a profunda polaridade entre o individual aristocrático e a comunidade da polis. Via de regra, representado como resultante da hybris dos aristocratas. Temos poucos dados para confirmar essa visão. Outro fator é a competição entre aristocratas e a pressão sobre o demos, levando muitas vezes à paralisação de instituições ainda sendo consolidadas. Poucas vezes o povo se envolveu com o processo. De fato, não deveria fazer diferença para ele um governo de um ou de muitos aristocratas. Nenhum dos tiranos acima colocou em ação uma reforma para beneficiar o povo. Apenas os aristocratas inimigos eram escanteados; a hierarquia social continuou. Também não reorganizaram as instituições da cidade. Todas as ações dos tiranos tinham o mesmo objetivo: consolidar o próprio poder na sua polis. Tirania não pode ser interpretada como uma alternativa à aristocracia. Quando as instituições da cidade se consolidaram, sobretudo a assembleia e o conselho, a tirania tornou-se obsoleta.
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