quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A ética e a estética da vingança: Arquíloco 171-82 W e a 'Odisseia'

A justiça retributiva por meio da vingança (tisis), um elemento da moralidade grega presente na fábula da águia e da raposa tal como parece ter sido representada por Arquíloco (cf. frags. 172-81 W), é um dos dois modelos narrativos (cf. Loney nos marcadores) basilares da Odisseia (o outro sendo o nostos, a narrativa de retorno). O narrador explicita isso maximamente quando faz Zeus contar, logo no início do poema, a vingança de Orestes contra Egisto, que matara Agamêmnon, pai de Orestes:

"Incrível, não é que mortais aos deuses responsabilizam?
Dizem de nós vir os males; mas eles também por si mesmos,
graças à sua iniquidade, além do quinhão têm aflições,
como agora Egisto: além do quinhão, do filho de Atreu
desposou a lídima esposa e a ele, que retornara, matou,
sabendo do abrupto fim, pois já lhe disséramos,
enviando Hermes, o matador-da-serpente aguda-mirada,
que não o matasse nem cortejasse a consorte:
‘Por Orestes se dará a vingança pelo filho de Atreu
quando jovem tornar-se e desejar sua terra.’
Assim falou Hermes, mas não ao juízo de Egisto
persuadiu, benevolente. Agora tudo junto pagou."

Elizabeth Irwin, em um artigo de 1998 ["Biography, fiction, and the Archilochean ‘ainos’." JHS 118: 177-83], defende que a fábula usada por Arquíloco também evoca 1) a perda dos filhos em virtude da quebra de um acordo de casamento (Licambes – Arquíloco) e 2) o papel do poeta (Arquíloco) de acabar com os filhos do seu inimigo (Neobule e sua irmã) através da invectiva. Para o poeta, os filhotes da raposa são os filhos que o casamento não vai trazer.

Egisto casou, mas seu casamento foi estéril; ele não teve um filho que pudesse vingar o pai.

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