terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Lírica grega: aula A (Budelmann 1)

Como não darei a 1a aula por motivos médicos, peço que leiam atentamente o programa e o cronograma. Qualquer dúvida pode ser manifestada por esse blog ou na "primeira" aula efetiva dia 2 de março. Vejam no programa as traduções que serão usadas; quase todas estão disponíveis no xerox da Da. Lúcia (as restantes deixarei lá no dia 21).

A 1a aula seria introdutória, mas, como todos cursaram IEC-1, onde devem ter tido uma introdução à poesia lírica, sugiro, no lugar dessa primeira aula, três leituras. Um delas é "A lírica grega e Safo", sobretudo a 1a parte, capítulo 1 do livro de Giuliana Ragusa Fragmentos de uma deusa [esse cap. também será útil para a discussão de Safo].

Além disso, nesse post e no próximo, farei um resumo parcial de outros dois textos bastante eficientes como introduções, ambos do livro The Cambridge Companion to Greek Lyric, editado por Felix Budelmann (Cambridge, 2009). O primeiro texto, "Introduzindo a lírica grega", é do próprio editor [utilizo colchetes para marcar meus comentários].

A lírica grega e seus desafios:

O sentido e a história de "lírico": num sentido estrito, o termo exclui o jambo e a elegia; num sentido amplo, não. Lyrikos refere-se à lira e só aparece no séc. II a.C. em referência a uma categoria específica de poesia/poetas. Antes disso, o termo mais importante era melos ("canção, tom"), que às vezes é oposto a épica e tragédia (Platão). Tanto na antiguidade latina quanto grega, "mélico" e "lírico" somente eram usados em um sentido estrito. O sentido amplo aparece no início do séc. XVIII e é consagrado por Goethe e suas "formas naturais de poesia" [sobre Goethe e o romantismo na definição dos 3 gêneros, cf. Calame na bibl.].
 
Um corpus variado e mal definido: [como ficará claro ao longo do semestre,] os textos sob a rubrica "lírica" são muito variados entre si. Uma narrativa (com ou sem discurso em 1a pessoa) ou a perspectiva de uma 1a pessoa podem ser mais ou menos preponderantes. A variação se dá em quase todos os aspectos: assunto, propósito, tamanho, metro, dialeto, tom, geografia, período, número e tipo de performer(s), modo de performance, acompanhamento musical, público, lugar da apresentação (santuários, ruas, espaço de convivência, casas etc.).

Não é sempre óbvio o que não é lírica (por ex., os poemas pré-socráticos). Exatamente por conta dessa variedade, muitos abandonam qualquer utilização da noção moderna de "lírica" ao discutir a lírica grega e adotam exclusivamente conceitos antigos. [É o que, em boa medida, faremos no curso, onde nos será mais importante a tripartiação jambo-elegia-melos (e os subgêneros do melos].

[Nas letras clássicas no Brasil, parece haver uma preferência por poesia mélica em referência ao sentido estrito e "lírica" (às vezes assim mesmo, com aspas), para o sentido amplo. Pessoalmente, acho um excesso de zelo as aspas quando o contexto deixar claro o sentido do termo. O importante é ter em vista que o sentido do termo "lírico" e os textos aos quais se referem são condicionados historicamente; no que diz respeito à literatura grega, a discussão em Platão, Aristóteles e na filologia alexandrina é particularmente importante.]

[Importante notar que a poesia lírica grega não acaba no séc. V. Por questões de tempo, não serão discutidos autores e poemas posteriores a Píndaro e Baquílides.]

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