As servas malignas como um sucedâneo de uma Penélope adúltera
Não deixa de ser algo instigante a tese de Laurel Fulkerson (CJ 97, 2002; retomada por Alexander Loney em sua bela tese de 2010, apresentada no Departamento de Clássicas da Duke, sobre a 'tísis' na Odisseia) de que as servas de Penélope funcionam como o "lado negro" da sua senhora, ou seja, assinalam uma possibilidade particular – o adultério de Penélope – e uma generalidade – a malignidade feminina - que, no poema, exalariam Clitemnestra, Helena e Afrodite (a princípio, prefiro não colocar todas elas nesse mesmo saco estreitamente rotulado).
Como leitor do séc. xx-xxi, nunca me passa pela cabeça que Penélope pudesse "trair" Odisseu, assim como não consigo imaginar Odisseu fracassando ou desistindo de voltar para Ítaca. Desde o início, graças ao narrador e aos deuses, eu sei que ele vai conseguir.
Do mesmo modo, desde o início eu tenho certeza que a astuta e, sobretudo, fiel e tenaz ("resilient", a palavra que mais gostei de A origem, um filme amado pelo meu amigo Robert de Brose) Penélope não vai querer desposar um daqueles pretensiosos e insuportáveis jovens.
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