Abaixo, um trecho em dísticos elegíacos (a única nas tragédias supérstites) da Andrômaca de Eurípides, onde a viúva de Heitor lamenta sua sorte presente como escrava de gregos. A maioria dos intérpretes concorda hoje com a tese de Denys Page (1936) de que essa passagem é baseada num tipo de canto comum no norte do Peloponeso, um lamento em versos elegíacos, ao qual se referiria o termo que só tardiamente aparece nas nossas fontes, elegos.
À escarpada Ílion, Paris, não como bodas mas perdição,
levou Helena, boa para o leito, para o tálamo.
Por causa dela, Troia, a ti, por lança e fogo capturada,
tomou o Ares veloz, mil-naus, da Hélade
e ao marido meu, eu, infeliz, Heitor, a quem em volta do muro
o filho da marinha Tétis arrastou, conduzindo o carro;
eu mesma do tálamo fui levada à orla do mar,
jogando a odiosa escravidão em volta da fronte.
Muita lágrima me desceu pela face ao deixar
cidade, tálamo e marido na poeira.
Ai de mim, eu, infeliz, por que deveria olhar para a luz
como escrava de Hermíone? Molestada por ela, suplicante
junto a essa estátua da deusa, os braços em volta jogando,
esvaio-me como uma fonte borbotante na pedra.
Outros textos da bibliografia que discutem a passagem são Nagy (2009) e Faraone (2008). Eu somente traduzi o trecho em dísticos elegíacos, mas a passagem deve ser pensada a partir do contexto onde está embutida. Agradeço ao Rafael, que me indicou o instigante texto do Nagy.
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