Compare o poema do Semônides com a introdução da resposta que Odisseu dá ao pretendente "bonzinho" Anfínomo no canto 18 da Odisseia:
Eis que Antínoo pôs-lhe ao lado um grande estômago,
cheio de gordura e sangue; e Anfínomo
tirou dois pães da cesta e ao lado pôs;
com cálice dourado, cumprimentou-o e disse:
"Sê feliz, pai estrangeiro: tenhas, ainda que no futuro,
fortuna; agora, de fato, estás preso a muitos males."
Respondendo, disse Odisseu muita-astúcia:
"Anfínomo, realmente me pareces ser inteligente.
Tens um pai de tanto valor, pois ouvi a nobre fama,
que Niso de Dulíquion é bom e rico;
dele dizem que nasceste, semelhante a decente varão.
Por isso te direi, e tu compreende e me escuta:
nada mais débil a terra nutre que o homem
entre tudo que sobre a terra respira e circula.
Nunca alguém pensa que um mal sofrerá no futuro
enquanto sucesso deuses ofertam e os joelhos se mexem;
mas quando o funesto deuses venturosos completam,
também isso, a contragosto, suporta com ânimo resistente.
É tal a mente dos homens sobre-a-terra
como o dia que conduz o pai de varões e deuses.
Também eu, um dia, seria fortunado entre os varões,
e fiz muita coisa iníqua, cedendo à força e ao vigor,
confiante em meu pai e em meus irmãos.
Por isso jamais um varão ignore as regras,
mas, quieto, suporte os dons de deuses, o que derem.
Que iniquidades vejo os pretendentes maquinar:
as posses devastam e desonram a esposa
do varão que não mais, penso, dos seus e do solo pátrio,
longo tempo, longe ficará; está bem perto. Mas a ti um deus
para casa acompanhe; que não te depares com ele
quando retornar para sua terra pátria:
creio que, não sem sangue, se distinguirão
os pretendentes e ele, após entrar sob o seu teto."
Isso disse e, após libar, bebeu o vinho meloso,
e de volta pôs o cálice nas mãos do ordenador de tropa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário