domingo, 20 de março de 2011

Poesia oral: estrutura em paralelo

A estrutura em paralelo é típica numa composição em forma de catálogo. Confira o trecho abaixo no canto 5 da Odisseia:

Sois terríveis, deuses, ciumentos mais que todos,
vós com deusas vos irritais quando com varões se deitam
abertamente ou se uma faz do amado seu marido.
Assim quando Órion foi eleito por Aurora dedos-róseos,    A B
e com ela irritaram-se os deuses de vida tranqüila                C
até que a ele, em Ortígia, trono-dourado, Ártemis sacra,     D E
com suas flechas suaves, após chegar, matou.                     F

E assim quando a Jasão a belos-cachos Deméter,               A’ B’
cedendo ao coração, uniu-se em enlace amoroso                C’
sobre campo trilavrado; pouco tempo ignorou-o                 D’ E’
Zeus, que o matou ao lançar um raio cintilante.                    F’
Assim irritai-vos comigo, deuses, por estar junto a um mortal.

O pequeno catálogo é demarcado por um alguns versos que o emolduram em estrutura anelar (os termos que se repetem em ordem inversa estão sublinhados), deixando bem claro para o ouvinte que o poeta passará, na sequência, para uma nova unidade.

A: nome do herói masculino por quem a deusa se apaixona;
B: nome da deusa
C: ação que a deusa executa ou sofre
D: onde uma ação ocorre (sedução; morte)
E: deus vingador
F: como a morte ocorre

2 comentários:

  1. Oi, professor,
    Esta sequência consegue reproduzir o efeito da versão em grego? Parece muito difícil manter, pela tradução, tanto o sentido quanto a ordem dos elementos; bem como no grego me parece mais viável notar os paralelos. Inclusive se os nomes e os elementos em espelho estiverem posicionados no mesmo local da frase, sofrendo as mesmas desinências etc. É assim que surge o paralelo no grego (de forma mais, digamos, completa)?

    ResponderExcluir
  2. Os elementos podem ocupar a mesma posição no verso, mas não é necessário para produzir o efeito no ouvinte.

    ResponderExcluir