Irene de Jong, baseando-se na análise de Bernard Fenik, assim define a duplicação ("doublet"): "uma cena que, em sua estrutura, repete outra cena".
Segundo Adrian Kelly, trata-se de um dos principais princípios poéticos da narrativa oral, ou seja, de uma composição que é feita durante a sua performance mesma.
A duplicação é um recurso particularmente efetivo numa narrativa mais longa, em especial, nos poemas monumentais que são a Ilíada e a Odisseia. Um exemplo odisseico:
Telêmaco, depois ter sido recebido por Menelau em Esparta (canto 4) e ainda sem ter revelado sua identidade, começa a chorar ao ouvir seu anfitrião falar de Odisseu. Ele tenta esconder de Menelau o choro, que pondera sobre o evento, mas sua identidade é imediatamente revelada quando Helena adentra o salão e, sem prestar atenção nas lágrimas, revela a identidade do hóspede.
Algo bastante parecido também ocorre a Odisseu quando na corte feácia (canto 8). Há vários elementos em comum entre o modo como Odisseu é recebido pelo rei Alcínoo e a recepção de Telêmaco em Esparta. Esses elementos, porém, podem ter feito parte de uma cena típica completamente independente de nossa Odisseia, a recepção de um hóspede seguindo regras de etiqueta.
O que não é comum nessas cenas, e que liga, de modo sugestivo para o leitor do poema como um todo, as recepções de Odisseu e Telêmaco, é que a identidade do hóspede não só se coloca como uma problema para o anfitrião, mas que esse problema é acentuado pelas lágrimas vertidas pelo hóspede no momento em que ele ouve uma história.
Dessa forma, numa duplicação, sentidos adicionais são construídos pelo leitor ao contrapôr as cenas em paralelo.
FENIK, Bernard (1974) Studies in the Odyssey. Hermes Einzelschriften v. 30. Wiesbaden: Franz Steiner
JONG, Irene J. F. de (2001) A narratological commentary on the Odyssey. Cambridge : Cambridge University Press
KELLY, Adrian (2008) "Performance and rivalry: Homer, Odysseus, and Hesiod" In: REVERMANN, Martin; WILSON, Peter (org.) Performance, iconography, reception: studies in honour of Oliver Taplin. Oxford: Oxford University Press
Nenhum comentário:
Postar um comentário