domingo, 13 de março de 2011

Sinopse descritiva das convenções de hospitalidade na poesia homérica

Cf. Steve REECE (1993) The Stranger’s Welcome: Oral Theory and the Aesthetics of the Homeric Hospitality Scene, Ann Arbor, p. 6-7.

I. Menina na fonte; menino no caminho
II. Chegada no destino

III. Descrição das cercanias
a. Da residência: a descrição da morada de Odisseu se dá somente no seu retorno (xvii).
b. Da pessoa que se busca e/ou de suas atividades: Telêmaco está pensando no pai. Portanto, Telêmaco+Odisseu x pretendentes desde o início do poema
c. Dos outros e/ou de suas atividades. Aqui está a ênfase em i. Os pretendentes, ao longo da Odisséia, estão sempre comendo ou jogando. Está implícita a condenação dos pretendentes por não se darem conta da presença de um estranho no umbral, ou seja, eles se comportam e não comportam como anfitriões.

IV. Cão na porta
V. Espera no pórtico ou umbral: em ix, Odisseu e seus companheiros não esperam por Polifemo no umbral.
VI. Súplica: indica a situação difícil de quem chega.

VII. Recepção

a. Anfitrião percebe o visitante: convenção homérica de que o mais novo filho do senhor percebe um visitante (Reece 48). Reece 18 assinala que na cabana de Eumeu são os cães que primeiro vêem Odisseu; isso prefigura o perigo de Odisseu no seu palácio, onde chamará os pretendentes de cães (xxii).
b. Anfitrião hesita na oferta de hospitalidade: xeinos é um termo ambivalente, já que pode significar desde aquele que devemos tratar como philos até um estranho perigoso.

c. Anfitrião levanta do seu assento
d. Anfitrião aproxima-se do visitante
e. Anfitrião cuida dos cavalos do visitante
f. Anfitrião leva o visitante pelas mãos
g. Anfitrião saúda o visitante

h. Anfitrião toma a lança do visitante: esse gesto não é muito comum em Homero, mas ele pode se referir a um costume histórico [você desarma um inimigo potencial; Reece 20]. Gesto bastante significativo em i.
i. Anfitrião leva o visitante para dentro: sinaliza um certo tipo de contrato, ou seja, aquele que chega será bem tratado enquanto lá estiver. Compare as chegadas de Odisseu e Telêmaco na cabana de Eumeu: somente o primeiro é conduzido para dentro.

VIII. Assento: a qualidade de Telêmaco como anfitrião é sublinhada pelo fato de colocar uma poltrona para Atena e uma cadeira para si mesmo.

IX. Banquete
a. Preparação
b. Consumação: geralmente um verso formular.
c. Conclusão: também geralmente apenas um verso.

X. Bebida pós-jantar

XI. Identificação
a. Anfitrião questiona o visitante: um bom anfitrião interroga o visitante somente após a refeição; é vergonhoso romper essa tradição.
b. Visitante revela sua identidade: geralmente inicia dizendo que suas informações serão detalhadas e precisas. Muita variação entre as cenas. Um dos temas centrais da Odisséia é o reconhecimento. Telêmaco e Odisseu são às vezes reconhecidos pelos seus anfitriões.

XII. Troca de informações
XIII. Diversão
A diversão em i é irônica [como entre os feácios]: o canto trata da ira de Atena [que tinha sido um hóspede] e do retorno dos aqueus [ os pretendentes esperam que Odisseu nunca mais volte, mas ele voltará].

XIV. Visitante abençoa o anfitrião
XV. Visitante compartilha de um sacrifício ou libação
XVI. Visitante pede permissão para ir dormir
Com frequência o anfitrião é tão zeloso que o hóspede precisa lembrar que está na hora do sono.

XVII. Cama
XVIII. Banho
Geralmente dado por servas, mas também pela senhora da casa (Helena, Circe, Calipso) e uma vez pela princesa virgem (iii: filha de Nestor). Não costuma ser algo casual, portanto.

XIX. Anfitrião detém o visitante
XX. Presente para o visitante
XXI. Refeição de partida
XXII. Libação de partida
XXIII. Benção de despedida
XXIV. Augúrio na partida e interpretação
XV. Condução do visitante ao seu próximo destino

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