sexta-feira, 4 de março de 2011

Jambo: Martin L. West

Nesse post, um resumo parcial do texto de Martin L. West (deixei de lado, por ex., a discussão sobre Hipônax e os exemplos desse poeta) sobre o jambo que está em seu livro Sudies in Greek Elegy and Iambus (Berlin: de Gruyter, 1974), p. 22-39. Meu resumo beneficia-se de uma tradução do texto que fiz com Fernando Rodrigues, mas que continua inédita.

O termo grego íambos não implica necessariamente um metro ou tipo métrico; o metro jâmbico obteve seu nome por ser particularmente característico dos íamboi e não o contrário.

A invectiva era vista como a marca mais evidente do gênero. Há uma grande variedade de assuntos nos fragmentos que os antigos, em algum momento, denominaram jambos. Para Dover, a característica comum dos jambos pode ter sido o tipo de ocasião para o qual eles foram compostos. A etimologia de íambos é desconhecida, mas tem sido comparada com dithúrambos, thríambos e íthumbos. Todas essas três palavras são associadas ao culto de Dioniso.

Iambe, personagem mítica: aparece no Hino a Deméter, 202, como a mulher que animou Deméter com gracejos abusivos depois de um período de tristeza e abstinência. Não há dúvida que as khleuai ("gracejos") de Iambe são protótipos míticos de alguma espécie de zombaria ritual de um tipo provavelmente cômico, insultante e indecente, de onde deve ter nascido o nome íamboi.

Deméter e Dioniso naturalmente tendem e ser associados, na religião grega, como divindades que controlam a produção da terra. Ambos possuem conexão com Paros e com Arquíloco.

A palavra íambos aparece pela primeira vez em Arquíloco fr. 215: "e não me preocupo nem com jambos nem com diversões", o que indica que, mais que poemas, trata-se de ocasiões.

West sugere que se pode reconhecer o jambo de forma mais confiante nos tipos de assunto dos quais os elegíacos nunca tratariam, isto é, poemas com sexualidade explícita, com invectivas que vão além do gracejo engenhoso encontrado na elegia e com outros tipos de vulgaridade. Em Arquíloco, concentrados nos trímetros jâmbicos e nos epodos.

Destaque para os ataques a Licambes e suas filhas. West sugere que Licambes e suas libidinosas filhas não foram contemporâneos de Arquíloco, mas personagens típicos de um entretenimento tradicional com alguma (talvez esquecida) base ritual. West sugere, como uma espécie de base sociológica da prática, o insulto contra os aristocratas poderosos.

Se Licambes e suas filhas não foram pessoas reais, então Arquíloco estava encenando um papel. Talvez fosse parte desse mesmo papel que ele se apresentasse como um bastardo, filho de uma escrava chamada Enipo (fr. 295); o nome, com suas conexões de enipaí (censuras), é suspeitamente apto para a mãe de um poeta jâmbico.

Há muitas referências nos fragmentos jâmbicos à comida e aos gêneros alimentícios.

Não gosto de um líder grande, pernas afastadas,
orgulhoso dos cachos, bigode aparado.
Não, meu seria pequeno e, quanto às pernas, torto
de se ver, firme marchador nos pés, pleno de coração.
(Arquíloco 114 W)

A sátira a figuras públicas presente nesse fragmento pode indicar que ele tenha sido considerada um jambo, mas que tenha sido uma elegia não é algo que se possa descartar. O o fato de o fragmento estar em tetrâmetros talvez indique que poderia estar agrupado com os comentários mais sérios sobre eventos públicos frequentes na poesia de Arquíloco nesse metro e que presumivelmente não é jâmbica.
Comentários políticos sérios em jambos são encontrados em Sólon.

Outro tipo de poema encontrado entre os antigos poetas jâmbicos pode ser chamado filosófico, por ex., Simônides 1 e 7. O primeiro tem uma temática que pode ser encontrada em uma elegia. O outro tem uma possibilidade um pouco maior de ser um jambo genuíno.

Algumas observações gerais sobre o jambo jônico: monólogo poético ou monódia de estrutura simples. Podem aparecer conversas, mas algumas vezes é evidente que elas são relatadas por um narrador. Metros característicos: trímetros jâmbicos e tetrâmetros trocaicos, puros ou coliâmbicos, ou combinações epódicas. A persona loquens (o eu poético) se dirige algumas vezes para o próprio público, algumas vezes a alguém específico, um amigo ou o sujeito de zombaria ou vilipêndio. Denuncia-se ou se ridiculariza pessoas particulares ou tipos universais, de um modo que divirta e entretenha, ou se conta excitantes aventuras sexuais ou outras coisas baixas. O cantor de um epodo poderia ser acompanhado por um instrumento musical.

O gênero atingiu seu auge no sétimo e no sexto séculos. [Daqui até o final de seu texto, West explora as conexões entre o jambo e a comédia ática.]

Nenhum comentário:

Postar um comentário