domingo, 13 de março de 2011

A primeira mulher: a criação de Pandora em "Trabalhos e dias"

Passagem de Trabalhos e dias, de Hesíodo, a ser comparado com o jambo de Semônides que apresenta distintas raças femininas oriundas de certos animais:

Com raiva, a ele dirigiu-se Zeus junta-nuvens:
"Iapetionida, superas a todos no conhecer ideias,
regozijas após o fogo roubar e meu juízo iludir,
para ti mesmo e varões vindouros, grande desgraça.
Eu, a eles, em troca do fogo, darei um mal com que todos
se deleitarão no ânimo, seu mal abraçando."
Assim falou, e gargalhou o pai de varões e deuses.
A Hefesto ordenou, ao mui glorioso, bem rápido
terra molhar com água, inserir voz humana
e força e à visão de uma deusa imortal assemelhá-la,
bela aparência amável de uma virgem; e a Atena,
ensinar as tarefas, tecer a trama mui artificiosa;
e à dourada Afrodite, graça verter em volta da cabeça,
anseio aflitivo e preocupações devora-membro;
inserir um espírito canino e um modo finório
a Hermes impôs, o condutor matador-da-serpente.
Assim falou, e eles obedeceram a Zeus, senhor Cronida.
De pronto a partir da terra moldou o glorioso duas-curvas,
tal qual respeitável virgem devido aos planos de Zeus;
cinturou e adornou-a a deusa, Atena olhos-de-coruja;
em volta dela, as deusas Graças e a senhora Persuasão
corrente dourada puseram na pele; coroaram-na
as Estações bela-coma com flores primaveris;
todo o adorno ao seu corpo ajustou Palas Atena.
Em seu peito, o condutor matador-da-serpente
mentiras, histórias solertes e um modo finório
arranjou por conta do plano do ribombante Zeus; som
colocou o arauto dos deuses, e nomeou essa mulher
Pandora, porque todos que têm casas olímpias
deram-na como um dom, desgraça dos varões come-grão.
Mas após o íngreme ardil intangível completarem,
a Epimeteu o pai enviou o glorioso Matador-da-serpente
levando o dom, o veloz mensageiro dos deuses. Epimeteu
não refletiu no que lhe dissera Prometeu, nunca um dom
aceitar de Zeus Olímpio, mas enviar de volta
no futuro para não se tornar um mal aos mortais;
ele, após receber, quando já tinha o mal, percebeu.
De fato, antes vivia sobre a terra a tribo de homens
à parte sem males e sem o duro labor
e doenças aflitivas, as que perdição dão aos varões.
[Rápido, na desgraça, os mortais envelhecem.]
Mas a mulher com as mãos a grande tampa do cântaro tirou
e espalhou, e para os homens armou agruras funestas.
Somente lá mesmo Esperança, na casa inquebrável,
ficou, dentro do cântaro sob as bordas, e não pela porta
afora voou, pois antes deixou tombar a tampa da jarra
por conta do plano do porta-égide, Zeus junta-nuvens.
Outras mil coisas funestas entre os homens vagam,
pois plena a terra está de males, pleno, o mar:
doenças para os homens há de dia, outras, de noite,
espontâneas, zanzam, males aos homens levando
em silêncio, pois o som tirou o astuto Zeus.
Assim, não há como escapar da ideia de Zeus.

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